Por marcelle.abreu

Dizem que pobre não se interessa por livros, que só quer saber de assistir TV e beber no bar. Mas há uma galera na Baixada Fluminense que desmitifica essa afirmação e prova que também sabe escrever, e muito bem: Emilly Borret, Marcos Lamoreux, Guarnier Paiol e Geise Gomes estão entre eles.

Emilly Borret mostra o ‘Diário de uma jovem Embaixadora’Paulo Araújo / Agência O Dia

A estudante Emilly Borret, de 17 anos, lançou o seu livro “Diário de Uma Jovem Embaixadora”, no último dia 7, na Livraria Cultura do Centro do Rio. A jovem iguaçuana foi uma dos 50 selecionados, dentre 13 mil 500 inscritos, para participar do Programa Jovens Embaixadores 2015 e contou a experiência de ter sido eleita uma estudante exemplar para representar o Brasil nos EUA, em seu livro.

“Sempre gostei de escrever. Tinha um diário quando era mais nova. Mas poemas e contos, só depois que um ex-namorado, que também escrevia, me fez refletir sobre o assunto”, conta a estudante, que quer cursar a faculdade de Medicina e pensa em se especializar em Neurologia.

O convite para escrever o livro contando a experiência do intercâmbio surgiu depois de uma matéria sobre o assunto. “A editora Nova Terra entrou em contato comigo depois que dei uma entrevista. Como gosto de escrever e sempre quis publicar algo, aceitei a proposta”, lembra Emilly, que disputava lugar no trem do ramal Japeri para poder escrever o seu livro.

O documentarista e guia de turismo Marcos Lamoreux lançou o livro “Minha Casa é Minha Mochila” após amigos brincarem que ele escreveria um livro sobre suas histórias de viagens. “Gostei tanto da ideia que simplesmente escrevi o livro, aproveitando um projeto que fiz pra faculdade, um roteiro de 500 páginas onde aproveitei textos de blogs de viagem que já tinha”, diz o meritiense de 28 anos.

Lançado em abril, o livro é independente, não tem editora. “Foi melhor assim. Pude ter contato direto com o público, uma experiência incrível”, lembra. O livro está passando por revisão para ser publicado em Angola, na África, e recebeu propostas de tradução para o alemão e o francês.

Morador de Nilópolis, o ator Guarnier Paiol, de 35 anos, tem dois livros publicados: ‘Onomatopeia’, que reúne contos e foi publicado pela editora CBJE (Câmara Brasileira do Jovem Escritor) e ‘Paiol -Ninho’, de poemas curtos _o primeiro volume de três, pela editora Maple. “Custeei as duas publicações e também tenho livretos que faço artesanalmente e comercializo”, diz o escritor, que é graduado em Língua Portuguesa e Literaturas e Especializado em Orientação Educacional e Pedagógica.

O ator explica que tem alguns outros livros para publicar, “mas tudo é bem difícil quando você é seu próprio patrocinador. Hoje, desconheço editoras que recebam originais de escritores desconhecidos com reais interesses em publicá-los sem que o autor pague a publicação.”.

A iguaçuana Geise Gomes, de 29 anos, lançou recentemente o livro infantil “Cadê Martin?”, pela Chiado Editora. O livro foi inspirado em um amigo argentino e em sua viagem de bicicleta pelo Brasil.

Conto na coletânea ‘Flupp Pensa’

Conto 'Estragos da Síndrome' foi lançado em português e francêsDivulgação

Joana Ribeiro tem representado belamente a Baixada. A jovem escritora iguaçuana de 23 anos, teve o conto ‘Estragos da Síndrome’ publicado em 2012 pela coletânea ‘Flupp Pensa’. E em março de 2014 o mesmo conto foi lançado na França, no Livro “Je suis toujours favela”. E, em novembro, Joana participará do livro ‘ Meu Rio’, com outros 20 escritores novos. O livro será comercializado em todo o Brasil.

O animador cultural, Heraldo HB, também faz parte dessa galera. Ele lançou “O Cerol Fininho da Baixada – Histórias do cineclube Mate Com Angu”, pela Aeroplano Editora. O livro faz parte da Coleção Tramas Urbanas.

Uma artista completa, Wilma Machado, de 60 anos, custeou a publicação do seu livro de poesias ‘Mãos Amigas’. “Presenteio os amigos com o livro”, conta ela.

Projeto reúne autores e livros da baixada fluminense

Buscando valorizar e reconhecer a produção literária da Baixada Fluminense, a produtora da empresa EncontrArte _ que realiza o festival de teatro de mesmo nome_e atriz, Claudina Oliveira, criou em 2007 o projeto ‘Autores e Livros da Baixada Fluminense’, em que ela reúne, sem nenhum apoio, os livros dos autores e os leva para eventos culturais e feiras.

“Hoje, a catalogação que faço já conta com mais de 300 títulos. Só de poesias são mais de 80. E a maior parte da produção é feita por homens”, conta. Segundo Claudina, predominam os livros de poesias e conteúdos paradidáticos, resultado dos trabalhos de TCCs e dissertações, principalmente, dos cursos de história da Baixada.

Ela quer se inscrever para o edital de Livro e Leitura lançado pelo Ministério da Cultura. “Quero potencializar esse projeto”.


Reportagem da estagiária Marcelle Abreu 

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