Rio - ‘Pocura-se negro fujão, que atende por Sebastião Jesus’. O que soa como absurdo para os padrões atuais, era apelo comum numa das páginas de classificados do terceiro jornal mais antigo do país. Fundado em 1834, na época do Império, o ‘Monitor Campista’ publicava com frequência anúncios de compra e venda de escravos. Após longas negociações travadas na Justiça, o periódico, desativado há cinco anos, tem agora parte de seu acervo aberto ao público em Campos dos Goytacazes.
O ‘Monitor’ foi retirado de circulação em 2009, e o acervo passou a ser armazenado no Centro do Rio, na sede dos ‘Diários Associados’, que detêm sua propriedade. “Esta é uma das obras jornalísticas mais vigorosas do município e, talvez, do país. Um trabalho jornalístico de muita grandeza e que fechou suas portas em ótima fase e de forma inexplicável”, disse Vitor Menezes, presidente da Associação de Imprensa Campista.
O Monitor teve em suas páginas fatos históricos como a 2ª Guerra Mundial, a Proclamação da República e o Golpe de 1964. O jornal registrou também a descoberta da bacia petrolífera em águas profundas, no ano de 1974. “O retorno do acervo do Monitor a Campos é uma vitória de toda a sociedade, pois é um resgate da história e da memória de um povo aguerrido”, disse o vereador Edson Batista, que participou das negociações junto ao Ministério Público Estadual. Resolução criada este ano pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal tornou o acervo um patrimônio histórico da cidade.
“O jornal foi um dos primeiros estabelecimentos da América Latina a ter luz elétrica. Quando a redação ficou iluminada pela primeira vez, muitos curiosos se juntaram na porta para contemplar”, conta Wilson Heidenfelder, diretor de Cultura da Câmara dos Vereadores de Campos, onde a mostra pode ser vista até quarta-feira. Na exposição, além da primeira edição do Monitor, é possível ver a prensa gráfica usada na época, bem como máquinas de escrever e aparelhos telefônicos.
Edições disponíveis ao público
Após negociações que chegaram a envolver recursos financeiros, os Diários Associados decidiram doar os 173 volumes existentes para o município. Depois da exposição, o acervo será armazenado provisoriamente em uma sala adaptada da Câmara. Isso porque o Arquivo Público Municipal, no Solar dos Jesuítas, distrito de Tocos, não foi aprovado para receber os fascículos, segundo avaliação de especialista contratado pelos Diários Associados. A prefeitura prepara o local para que a transferência seja feita nos próximos meses.
Segundo Wilson Heidenfelder, o acervo passará por um processo de digitalização e microfilmagem para ficar disponível ao público. Antes da intervenção do MP, o acervo seria levado para a Biblioteca Nacional, no Rio.