Por bianca.lobianco

Rio - Aos oito anos, Rogério de Souza Santos se despediu do tio, Roberto de Oliveira, sem saber o tempo que demoraria para reencontrá-lo. Uma década depois, Roberto, hoje com 36 anos, reaparece na casa do sobrinho com as costas e os braços feridos, pedindo por socorro. A promessa de um trabalho bem remunerado no corte de cana, há dez anos, havia se transformado num pesadelo para ele e outros três homens que viviam sob torturas físicas e psicológicas, obrigados a trabalhar até 17 horas por dia.

Golpes de madeira%3A vítima trazia nas costas as marcas da violência Divulgação

“Nós encontramos as vítimas com escoriações principalmente nas costas. Contaram que eram castigados com pedaços de madeira. Eles serão examinados no Instituto Médico Legal (IML) nos próximos dias”, disse William Cabral, da 141ª DP (São Fidélis).

“Quando eu ia na fazenda procurar por meu tio, diziam que ele tinha se casado com uma mulher e se mudado para o Rio. Eu era criança quando ele saiu contente da casa da minha mãe, dizendo que tinha conseguido um serviço bom. Agora o tio Roberto aparece todo machucado, todo sujo, gritando socorro e dizendo que não aguentava mais ser escravo”, conta Rogério, 18, que trabalha como pintor.

Foi por causa da astúcia de Roberto, que escapou depois de pedir para ir ao banheiro, que os outros três homens conseguiram a liberdade no último sábado. “Por se tratar de grave denúncia, pedimos o reforço da delegacia de Campos dos Goytacazes (134ª DP). Chegando ao local, tivemos dificuldades para encontrar os outros três, porque eles se esconderam, seguindo as ordens do capataz”, contou Cabral.

O fazendeiro Paulo Girão, 59, seu filho Marcelo, 33, e o capataz Roberto Melo de Araújo, 38, estão presos e responderão pelo crime de “redução à condição análoga à de escravo”. Os três podem pegar de dois a oito anos de prisão.

Serviço das vítimas era ‘terceirizado’

Além de obrigar as vítimas a trabalhar em sua fazenda, Paulo Girão é acusado de oferecer o serviço de seus “empregados” a outros agricultores e cobrava por isso. Segundo a polícia, o capataz vigiava para que as vítimas não fugissem ou denunciassem. Em depoimento, o próprio capataz afirmou que nunca viu nenhum dos quatro receber qualquer pagamento. “Infelizmente, isso é mais comum do que se pensa nas áreas rurais do estado”, disse Ivanir dos Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas.


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