Por bianca.lobianco

Rio - A batalha em defesa do Patrimônio Histórico revela, em muitas cidades, heróis da resistência e atitudes surpreendentes. É o caso do promotor Carlos Felipe Ventura Lopes, 38 anos, que mantém sem qualquer patrocínio ou ajuda oficial um acervo com mais de 200 peças em um casarão de 1927 no Centro de Miracema, Noroeste Fluminense. São documentos, objetos que não deixam esquecer a tortura de escravos, instrumentos de trabalho e utensílios domésticos da grandiosa época da cultura do café. O Museu Rural é a parte urbana do Centro de Cultura e Memória da Fazenda Santa Inês, pérola arquitetônica comprada pelo avô de Carlos Felipe, em 1902.

Carlos Felipe mantém arcevo de 200 peças sem ajuda do governoAziz Filho / Agência O Dia

O casario do Centro de Miracema, tombado pelo Inepac, é um espetáculo parado no tempo. A resistência dos casarões e das ruas de paralelepípedos, nas quais carros ainda dividem espaço com charretes, tem tudo para orgulhar a região. Há poucas cidades como Miracema no Estado do Rio de Janeiro. Raros também são os empreendedores que arregaçam as mangas para fazer acontecer, enquanto o poder público hesita. “Não se vê um trabalho para conscientizar as novas gerações ou para gerar renda com o turismo”, diz o promotor.

O povoado de Miracema começou em 1846. Uma das construções mais antigas ainda de pé é o engenho da Fazenda Santa Inês, de 1870. Na propriedade foi identificado, em 2011, um sítio arqueológico com heranças deixadas pelos índios Puris, os primeiros habitantes. Tanto a fazenda quanto o museu na cidade estão abertos à visitação, mas é preciso agendar. O telefone é (22) 99243-5040 e o endereço, www.fazendasantainesrj.com.br. Vale a pena anotar.

A cidade é pontilhada por marcas charmosas de várias épocas nas ruas próximas à Praça das Mães, onde fica a imponente Igreja de Santo Antônio de Miracema. As vias com mais casarões centenários preservados são a Marechal Floriano e a Barroso de Carvalho.

É claro que não faltaram ideias pouco brilhantes de trocar pedras por asfalto liso. Mas a sorte sorriu mais para Miracema do que para a maioria das cidades fluminenses, e o bom senso prevaleceu. Pelo menos nas poucas ruas tombadas.

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