Por thiago.antunes

Rio - Segundo maior mercado consumidor de produtos vindos da pecuária no país, o Rio de Janeiro precisa investir mais para elevar a sua produtividade. O estado não está nem entre os 10 maiores produtores pecuaristas do Brasil, como mostra levantamento da Emater-Rio (Empresa de Assistência Rural do Estado) que analisou 19 atividades, desde a criação de gado até a de abelhas. Apesar da constatação, várias cadeias produtivas vêm aumentando sua produção. É o caso da ovinocultura, que era inexpressiva e agora desponta como a que mais cresce no interior do estado.

O estudo revela que a atividade que mais se destacou e aumentou proporcionalmente a produção foi a de leite de ovelha, passando de quase zero em 2010 para 20.400 litros em 2013. O maior interesse dos criadores se explica pelo alto preço do produto no mercado. “Comecei produzindo leite para fazer queijos de cabra e de vaca. Agora a moda é criar ovelha. São 70 litros por dia extraídos de umas 200 ovelhas. Toda a produção vai para a produção dos queijos. Essa quantidade dá para fazer 30 quilos diários e cada quilo vendemos por R$ 70 para cerca de 200 lojas e supermercados do Rio, onde o quilo é vendido a R$ 120”, contou o dono da fábrica de laticínios Sítio Solidão, Luiz Francisco Menezes.

No campo%2C a moda agora é criar ovelhaiStockphoto

O negócio já atraiu a atenção de estrangeiros. “Um pessoal da Suíça, país famoso por ter os melhores queijos do mundo, veio ver como fazemos a produção”, comentou o produtor, que já planeja exportar. Sua propriedade fica em Miguel Pereira, no Centro-Sul Fluminense, a que mais se destaca na produção de leite de ovelha. A cidade produz 10 mil litros, quase metade da produção anual do estado.

Segundo a Emater-Rio, a atividade vem crescendo desde que os produtores passaram a dominar e produzir o queijo de leite de ovelha tipo Serra das Estrelas, de Portugal. Essa alta se dá também pelo programa estadual Rio Ovinos, que financia a atividade na região. A produção de carne de ovelha também vem crescendo. De acordo com o estudo, os clientes procuram cada vez mais esse alimento, principalmente o animal da raça Santa Inês, que é mais macia e saborosa.

A grande quantidade de churrascarias e o histórico de produção faz de Campos dos Goytacazes o maior produtor de carne de ovelha do estado, com 346 toneladas por ano. No Rio, são produzidas 1.022 toneladas. Em 2008, não chegava a 800 toneladas.

Solução é investir na avicultura orgânica%3A produz menos%2C mas valor é mais alto. Maior produção é na SerraDivulgação

Responsável pelo levantamento, José Henrique Moraes, veterinário e gerente de Pequenos e Médios Animais da Emater-Rio, diz que o crescimento da ovinocultura no estado, apesar de não ter sido suficiente, foi significativo. “Em 2013 foi criado um entreposto e um abatedouro de ovinos e caprinos em Três Rios. A partir daí, a comercialização ficou mais fácil e houve um aumento considerável na produção”, explicou. Apesar do crescimento em diversas cadeias, o estudo aponta problemas para a expansão da pecuária no estado. “A terra é muito cara, além da dificuldade de acesso às rações, que são produzidas, em sua maioria, no sul do país”, explica.

Carne duas vezes mais rentável

Presidente da Associação de Criadores de Ovinos e Caprinos do Estado do Rio de Janeiro (Acocerj), Thiago Inojosa confirma que o preço de venda da carne de ovelha é alto. “Ela dá duas vezes mais rentabilidade do que a carne de boi. Trabalho há 12 anos e tenho 800 ovelhas para corte e 250 para genética. Uma ovelha a cada oito meses dá um cordeiro pronto para abate com cerca de 17 quilos. Vendo o quilo entre R$ 15 a R$ 20 para um frigorífico de São Paulo e outro de Teresópolis (RJ)”, disse.

Clique no infográfico para ver maiorArte%3A O Dia

Apesar do aumento na produção, 80% da carne de ovelha consumida no Rio saem de outros estados. “O Rio é o que mais paga pela carne. Para se ter uma ideia, são 60 mil animais, quando para abranger o estado inteiro teria que ter um milhão e meio de cabeças.”

Segundo ele, também falta conscientizar os criadores de que a ovelha não é um boi pequeno. “As instalações, o manejo e alimentação são diferenciados. Quem pensa em produzir tem que pedir ajuda e suporte técnico. Há espaço para produtores, já que existe demanda, mas falta produção”, ressaltou.

Com ovos em queda, opção é orgânico

A produção de ovos de galinha no estado tem caído: passou de mais de sete milhões em 2008 para cerca de 5 milhões no ano passado. Já a produção de carne de frango está estável. Em 2008, era de 132 mil toneladas, o mesmo valor de 2013. Maior produtor do estado, São José do Vale do Rio Preto, na Região Serrana, produziu mais da metade do total (quase 3,5 milhões de ovos) e cerca de 34 mil toneladas de carne de frango.

Uma saída é investir na avicultura orgânica, que está em alta. “Nela, temos que respeitar a natureza animal, criando os frangos soltos”, explicou o produtor rural Benedito Leônidas Luz, 70 anos. Ele vende principalmente para o Circuito Orgânico Carioca. A dúzia de ovos sai por R$ 11 e o quilo do frango, a R$ 21. “Tenho 400 animais que fornecem 380 ovos por dia e 700 frangos para carne”, ressalta.

A produção orgânica de ovos e aves, no entanto, também esbarra em outra limitação do Rio: o custo dos insumos, principalmente o milho. “O milho de soja não transgênico é mais caro, principalmente porque compramos de Goiás e do Paraná. Muitos produtores desistiram por isso, mas, na minha opinião, apesar de ser mais caro, o lucro é alto e compensa”, diz Benedito.

Segundo Moraes, da Emater-Rio, a soja e os cereais são transportados por frete, o que encarece o custo. “A qualidade oferecida é boa, mas a quantidade é baixa. Uma solução é haver uma interação maior entre os estados e o transporte das rações ser feito pelos portos e não por estradas”, explicou.

Clima é ruim para os suínos

Uma cadeia que a cada ano diminui a produção é a suinocultura. Segundo o relatório da Emater-Rio, o clima muito quente, os preços altos dos insumos e a dificuldade de abate fazem com que a criação de porcos tenha queda significativa. Em 2008 eram produzidas quase 18 mil toneladas de carne de porco, contra apenas 3.077 toneladas no ano passado.

Muito consumidas, as carnes de boi e peixe também sofreram queda. A bovinocultura caiu de 79 mil toneladas para 67 mil toneladas entre 2012 e 2013. Já a piscicultura caiu de 3.700 toneladas para 1.966 toneladas no mesmo período. Enquanto isso, a caprinocultura cresceu, mas ainda é pouco relevante: foram quase 70 toneladas de carne de cabra em 2013, contra 62 toneladas no ano anterior.

Já a produção de mexilhões, chamada de mitilicultura, cresce a cada ano em ritmo acelerado. Em 2008, eram 15 toneladas e em 2013, esse número subiu para 102 toneladas. A criação é feita em três cidades: Niterói, Paraty e Mangaratiba.

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