Por thiago.antunes

Rio - A decisão emergencial da Agência Nacional de Águas (ANA) de prorrogar até 30 de novembro a vazão reduzida da barragem de Santa Cecília, em Barra do Piraí, no Sul Fluminense, diante da estiagem que afeta a bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, divide opiniões no estado.

De um lado, o Comitê de Integração da Bacia do Paraíba do Sul (Ceivap), que aprova a medida, considerada essencial para garantir o abastecimento da capital e Região Metropolitana. De outro, municípios do Norte Fluminense, onde o rio deságua, e o Ministério Público Federal (MPF), que defende medidas mais severas, como a decretação de calamidade hídrica na região e um possível racionamento.

Publicada quinta-feira, no Diário Oficial da União, a resolução prorroga a redução da vazão mínima de 190m³/s para 160m³/s, adotada desde 1º de setembro. “Não é a melhor medida, mas é a necessária. Com este volume, a gente está conseguindo trabalhar. O que precisa é aumentar o reservatório, e isso, só com chuva”, diz Vera Lúcia Teixeira, vice-presidente do Ceivap.

Em Campos%2C onde o nível do Paraíba atinge seu nível mais crítico%2C prejuízos chegam a R%24 200 milhõesFolha da Manhã / Agência O Dia

“O momento é litúrgico, só rezando para chover muito. Esta medida paliativa mostra que o problema persiste, não diminui e não encontraram uma solução. Mesmo se chover duas a três semanas não vai resolver. O Sistema Cantareira, em São Paulo, não vai encher”, critica o procurador da República Eduardo Santos Oliveira. Segundo ele, a redução da vazão reduz drasticamente o volume que chega ao Sistema Guandu, que abastece a Região Metropolitana, e afeta severamente as regiões Norte e Noroeste.

“Essa prorrogação da ANA nos sinaliza que precisamos que chova muito em breve. A nossa esperança agora é religiosa, porque dizem que em todo feriado de Finados chove. Estamos apostando nisso”, diz Eduardo Crespo, secretário de Agricultura de Campos dos Goytacazes.

Procurado para comentar a medida, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Portinho, não foi encontrado. Em nota, a secretaria informou que a resolução “não muda absolutamente nada do que já vem sendo praticado” e segue orientações do Grupo Técnico de Operação Hidráulica (GTOH/Ceivap), que reúne representantes da ANA, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), entre outros.

A Cedae informou que o abastecimento está mantido nos municípios que recebem água do Paraíba do Sul. E que houve problemas apenas em São João da Barra devido à língua salina, maré alta que adentra o leito do rio, aumentando a salinidade da água.

Prejuízos crescem na agropecuária

Estudo preliminar mostra que Campos já acumula quase R$ 200 milhões em perdas na agropecuária com a seca. Quase 8 mil pequenos produtores já foram afetados diretamente e 1.500 animais morreram. São 500 mil toneladas de cana-de-açúcar menos do que o ano passado. Uma usina fechou as portas por falta de cana para moer.

Na vizinha São Francisco do Itaboapana, cerca de mil cabeças de gado morreram. Em São Fidélis, que decretou estado de emergência, foram outras 700. As cidades estão buscando cana em Campos para alimentar seus animais. De acordo com dados da Emater Rio, a perda foi de 20 milhões de litros de leite, o que representa 4% da produção anual. A perda de animais gira em torno de 2 mil cabeças, sendo que o rebanho do estado é de 2 milhões e 100 cabeças de gado. Na agricultura, as perdas gerais do estado giram em torno de 10%. A fruticultura não foi mais afetada porque é irrigada artificialmente.

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