Rio - Em 30 de setembro de 1889, morria na Fazenda da Grama, em Rio Claro, na Região Centro-Sul Fluminense, o comendador Joaquim José de Souza Breves, conhecido como um dos “reis do café” no Brasil Imperial. Ele era dono de uma centena de propriedades e de 10 mil escravos. Sua morte ocorreu um ano após a conclusão da obra de um dos maiores símbolos do Vale do Café no Século 19: a Igreja de São Joaquim da Grama, construída por ele e que levava seu nome.
O local que recebia centenas de fiéis por semana e onde Joaquim foi sepultado junto com a mulher, Maria Isabel, está há anos abandonado. “O teto desabou, o piso ruiu, sinos foram roubados, e o local virou “point” sobrenatural de jovens que passam a noite e se deitam nas catacumbas abertas, esperando pelo aparecimento fantasmagórico do Comendador Breves. Bois, vacas, cabras e morcegos visitam a capela em ruínas, subindo no espaço onde ficava o altar”, conta o pesquisador Aloysio Clemente Breves, descendente dos Breves. Já em 1962, ano em que as atividades religiosas foram interrompidas, a capela foi interditada por falta de segurança e precariedade do local.
Passados 62 anos, os antigos fiéis já podem comemorar, mas ainda sem pressa. O Instituto Cultural Cidade Viva acaba de dar início ao projeto de restauração da bicentenária igreja, declarada patrimônio cultural do estado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) em 1989. O objetivo do processo, segundo Francis Miszputen, coordenadora do projeto, é criar condições para que a capela se mantenha de pé e a sua história não se perca.
“No estado que está, ela não vai ficar em pé. Precisamos fazer uma contenção dos danos. A prioridade é conter o processo de deterioração”, disse. A primeira etapa terá duração de oito meses e começará com o levantamento da situação do imóvel e mapeamento dos danos. O objetivo é dar início a uma ação de intervenção emergencial, minimizando processo de degradação. Segundo ela, a obra é bem significativa para a população local. “Sempre foi um desejo da comunidade de Rio Claro.”
Suspeitas de ocultação de cadáveres
Na década de 60, a capela — localizada em um ponto afastado, com catacumbas e cemitério ao lado — ganhou notoriedade negativa na imprensa com o caso Dana de Teffé, sobre o desaparecimento da tcheca Dana Fitscherova, supostamente assassinada e cujo corpo nunca foi encontrado. O suspeito seria Leopoldo Heitor, conhecido como “advogado do Diabo”, que mantinha um sítio em Rio Claro. Na época, levantou-se a suspeita de que a capela teria sido usada para esconder o corpo.
Com o caso e a suspeita de violação de túmulos na capela, a partir de 30 de maio de 1962 foi concedida uma permissão para que a família transferisse os corpos do comendador Breves, sua mulher e filhos para o Cemitério Municipal de Barra do Piraí. Antes, em 16 de abril de 1962, Dom Agnelo Rossi, bispo da diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda, interditou a capela para todos os ofícios religiosos. O local entrou em processo de deterioração com o fechamento. Em 19 de setembro de 1989 ocorreu o tombamento pelo Inepac, junto com o Sítio Histórico de São João Marcos. Em novembro de 2007, a Fazenda da Grama entrou no Inventário das fazendas do Vale do Paraíba Fluminense, do Instituto Cultural Cidade Viva.
Reportagem de Vinícius Amparo