Por nicolas.satriano

Rio - A promessa de que o Comperj se tornaria um eldorado de oportunidades foi por água abaixo. E com ela o sonho de milhares de pessoas que buscavam melhorar de vida ao chegar a Itaboraí, na Região Metropolitana. Muitos, porém, ainda mantêm a esperança de uma retomada nas obras e não querem deixar a cidade. Como Jefferson Henrique, de 30 anos, morador de Goiânia, em Goiás, flagrado ontem vendendo água num sinal de trânsito da cidade.

“Cheguei em 2013 e trabalhava com guindaste até janeiro. Resolvi ficar em busca de uma nova oportunidade no Comperj. Aluguei casa para morar com minha mulher e filha. Estou esperando me chamarem de novo. Voltar para Goiás é muito caro. Conheço gente que retornou, mas eu fiquei por aqui mesmo”, disse.

Desde 2013 em Itaboraí%2C Jefferson%2C demitido em janeiro%2C ficou com a esperança de voltar para o ComperjDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Jefferson é um dos cerca de 8 mil trabalhadores demitidos do Comperj nos últimos seis meses. Os dados são do Sintramon (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial), que reúne empregados do Comperj. “Até junho do ano passado eram 18 mil. Hoje não passam de 4.600”, afirmou o secretário geral, Thyago Rodrigues.

Não só os ex-trabalhadores do Comperj estão de “pires na mão”. Marcos Paulo Pires e Silva construiu a Pousada do Trabalhador há cinco anos para atrair os empregados do complexo. No início, conseguiu um bom lucro, mas agora, com a debandada de vários deles da cidade, o dono do estabelecimento está passando o ponto. “Minha pousada valia R$ 1,3 milhão e agora estou vendendo por um terço do preço. Há 20 ex-trabalhadores do Comperj que continuam aqui e não pagam a diária desde outubro. Vou fazer o quê? Colocar essas pessoas na rua? É desumano. Estou vendendo os móveis e tudo”.

Sem emprego e sem dinheiro, muitos acabam morando nas ruas. A cada mês, o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua do Município (Centro Pop) consegue passagem para quem pede ajuda para retornar a sua cidade de origem. “Tem muita gente que está pela cidade esperando o Comperj voltar a contratar. Não temos condições de mandar todo mundo de volta. A cidade está superlotada”, afirmou o coordenador do Centro Pop, Fábio Krespane.

O Restaurante Cidadão, do governo do estado, é a salvação de alguns desses desempregados. Aloísio de Santana, 55, e José Raimundo, 34, saíram de Salvador, na Bahia, e trabalharam durante cinco meses em uma empresa no Comperj. “Se não fosse o restaurante popular estávamos perdidos. Não temos dinheiro para comer. Estamos há um mês sem emprego. Pagamos R$ 500 de aluguel. Apesar de tudo, vou ficar por aqui. Vai que retomam as obras?”, disse Aloísio.

Criminalidade aumenta

A criminalidade na cidade aumentou. Levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que em 2013 houve 479 roubos a pedestres. Já em 2014, foram 806, um crescimento de 68%.

“Teve um companheiro que estava passando fome e fizemos uma vaquinha para mandá-lo de volta. Se ficasse aqui, ele podia fazer besteira, praticar um crime”, disse José Raimundo, que não quer voltar para a Bahia. “Lá também não tem emprego”.

O secretário de Desenvolvimento Social e vice-prefeito de Itaboraí, Audir Santana, vai se reunir hoje na Subsecretaria de Assistência Social do Estado para buscar uma parceria de curtíssimo prazo para ajudar as pessoas a voltarem para suas cidades e a curto e médio prazo, para montar uma estrutura de casa de passagem para a população de rua.

“O Centro Pop não oferece pernoite e refeições. Oferecemos vasilhames e o restaurante popular dá comida em troca”.

Você pode gostar