Rio - Considerada a 11ª melhor do Brasil e a primeira do Estado do Rio, segundo estudo recente do Ministério da Educação, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) vive uma situação dramática. O corte de R$ 19 milhões do orçamento da instituição pelo governo estadual — de R$ 172 milhões para R$ 153 milhões este ano — afetou diretamente os pagamentos de contas de energia, água, telefone, segurança e limpeza terceirizada, além do repasse dos recursos para o restaurante universitário e a contratação de professores auxiliares.
A preocupação do presidente da Associação de Docentes da Uenf (Aduenf), Luis Passoni, é que a universidade não tenha mais condições de funcionar. “Estamos preocupados. Semana que vem (esta semana) vou ao Rio iniciar contatos com governantes para pedir uma ajuda. Estamos sem telefone por causa do atraso no pagamento. Se cortarem a água e a luz, a Uenf fecha as portas”, afirmou.
Outro problema, segundo Passoni, é que as bolsas estudantis de todas as modalidades estão em atraso há dois meses. “Isso prejudica diretamente a manutenção dos estudantes na universidade e os projetos estão paralisados. Os novos terão que ser indefinidamente adiados. Nenhum estudo de extensão está sendo pago. Os alunos carentes e os cotistas encontram dificuldades se as bolsas forem pagas com atraso”, comentou.
Em nota, o reitor da Uenf, Silvério de Paiva Freitas, explicou que as bolsas em atraso são pagas com a chamada “verba descentralizada da Faperj”, concedida a todas as universidades estaduais para que possam conceder bolsas para atuar em projetos vinculados à universidade. Segundo a nota, a reitoria tem tentado uma solução junto às secretarias estaduais e à Faperj para solucionar o problema.
“Todos os procedimentos do pagamento de janeiro deste ano foram concluídos no tempo correto e, desde o dia 9 de fevereiro, encontram-se à disposição da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), aguardando a sua execução. Do mesmo modo, todos os procedimentos referentes ao mês de fevereiro de 2015 foram concluídos na última terça-feira, restando a liberação financeira pela Sefaz”, informou. A Secretaria informou que os pagamentos à Faperj estão sendo negociados junto à instituição . “Não há um prazo a ser informado, está em negociação permanente”, informou a assessoria.
Professor fica sem material
O professor Marcos Pedlowski diz que as bolsas são a fonte de renda única para muitos estudantes, que dependem do pagamento regular para permanecerem nas cidades de Campos dos Goytacazes e Macaé, onde os programas de pós-graduação da Uenf são oferecidos. Na última quinta-feira, o movimento estudantil protestou pelo pagamento de bolsas atrasadas. “Os alunos não incendiaram o bandejão porque ele é mantido com dinheiro do MEC”, disse.
Segundo ele, só com despesas de salários e bolsas acadêmicas, a Uenf gasta R$ 120 milhões. “Soma-se luz, água, telefone, insumos para os quatro centros de pesquisa, funcionários terceirizados de limpeza e segurança. A conta não fecha. Houve uma perda de R$ 19 milhões. É muita coisa.”
O professor contou que teve que tirar dinheiro do seu projeto para pagar os testes para os alunos. “O papel almaço das provas que aplico quem compra sou eu. A tinta para impressão também. Antigamente, eu pedia material para o almoxarifado da universidade, agora não tem mais”, destacou.
De acordo com o diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Braullio Fontes, apesar desse panorama, os estudantes continuam a tocar os programas. “Mesmo sem o pagamento, os alunos estão mantendo os projetos. Eu, por exemplo, não recebi a bolsa de janeiro e nem de fevereiro, mas continuo o meu curso de extensão em Filosofia”, observou.
Em outra nota, a Gerência de Recursos Humanos da Uenf informou que contestou a decisão do governo de não corrigir os percentuais de pagamento do adicional de insalubridade dos servidores estatutários, reajustados por conta de enquadramento, progressão ou triênio.