Por nicolas.satriano

Rio - Prefeito da antes próspera Macaé, conhecida como a capital nacional do petróleo, Aluizio dos Santos Júnior (PMDB), o Dr. Aluizio, surpreendeu a população nesta terça-feira (20) ao anunciar, na Câmara de Vereadores, a decisão de renunciar ao próprio salário, em torno de R$ 17 mil por mês. O gesto, justificou ele, é em solidariedade aos “milhares de desempregados pela crise que assola o país e a cidade.”


Dr Aluizio ainda sugeriu que o vice-prefeito, o presidente da Câmara e vereadores fizessem o mesmo, revertendo os valores aos cofres públicos. Hoje, a Câmara da cidade tem o maior custo-gabinete, cerca de R$ 2 milhões — são 17 vereadores, com custo total de R$ 34 milhões.


“Estamos vivendo um índice de desemprego que Macaé nunca viveu. A cidade perdeu este ano cerca de 9 mil postos de trabalho. Estamos negociando com empresas de petróleo inclusive para oferecer isenção de IPTU. É muito ruim ver tudo acontecendo e não tomar atitude que não seja concreta”, diz o prefeito, que é médico neurocirurgião e pretende sobreviver da renda de seu consultório. 

Prefeito já havia cortado subsídio em 20% e agora deixará de receberDaniel Castelo Branco / Arquivo Agência O Dia


O cientista político Paulo Baía vê a medida com cautela.“A atitude só será revestida de um bom simbolismo se vier acompanhada de atos de gestão concretos, como, por exemplo, redução de verbas de representação para o exercício do cargo, cortes de custos de gabinete e austeridade fiscal”, disse. “O Legislativo tem que dar o exemplo, cortando custos no seu dia a dia. Se isso não for feito, a atitude de abrir mão dos salários passa como falsidade e jogo de cena para a plateia em um momento de grave crise na arrecadação de Macaé”, afirmou.


Dr. Aluizio calcula fechar o ano com orçamento de R$ 1,8 bilhão, um déficit de quase R$ 500 milhões por conta da queda de 30% nos repasses dos royalties do petróleo. A exemplo de outros prefeitos do estado, ele já havia reduzido o próprio salário e o do vice em 20% e adotado medidas como a diminuição dos salários dos servidores comissionados, uma reforma administrativa que reduziu o número de secretarias de 62 para 25 e a suspensão das incorporações (economia prevista de R$ 60 milhões/ano). Também reduziu linhas de telefonia celular institucional, além de devolver automóveis e prédios alugados e reduzir em 20% dos contratos de prestação de serviços terceirizados pela prefeitura. "Mas tudo o que tem feito não tem surtido efeito", lamenta.


Prefeito quer inspirar vereadores


O prefeito convocou os vereadores a repetirem o gesto. "Eu compreendo quem não quiser abrir mão de seus vencimentos integrais ou quem vive literalmente da política. Mas é preciso que a Câmara sinalize, dê um aceno de solidariedade e respeito, que as famílias dos desempregados de Macaé precisam. É fundamental que essa medida gere reflexão, pelo menos em Macaé, que tem uma Câmara de Vereadores com o maior custo-gabinete do estado", provocou.


Indagado se isso poderia abalar suas relações com os vereadores, explicou: "Um servidor não pode se encastelar. Não é comprar briga, minha relação com vereadores é a melhor possível, mas o país todo está cortando custos, o brasileiro está cortando. Não é sério que um ator político não o faça".


Perguntado se acha que essa medida pode ser vista como eleitoreira, Dr Aluizio esclarece: "Não é retórica tirar 12 mil de quem está desempregado. Quem se propõe a ser ator político, deve se colocar no lugar do outro."  Ainda segundo Dr. Aluizio, a prefeitura vem combatendo os supersalários. Ele reduziu o teto para R$ 17 mil bruto e R$ 12 mil líquido. "Ninguém pode ganhar mais que isso, a não ser procuradores que têm teto de R$ 27 mil bruto, salário de desembargador", disse ele.


“(Essa medida) não traz emprego de volta, mas sinaliza que é um governo sensível, em solidariedade e respeito às famílias de desempregados. Eu tenho uma profissão que nunca abandonei, tenho condições de me sustentar e a minha família”, disse o prefeito, de 47 anos, pai de três filhos, todos já formados ou na faculdade.


Ele diz que apesar de voltar a aumentar sua atividade profissional, isso não ameaça sua dedicação ao cargo de prefeito. Como voluntário, todas as segundas ela vai à Pestalallozi para atender pacientes especiais, e nos demais dias da semana, atua em seu consultório, das 8 às 12h, além de realizar visitas a doentes em hospitais. "Um prefeito nunca descansa, nunca para", ressalta.


Se trabalhar perde empergo, receita e passa dificuçdade, pq não se coloca no lugar? conduzir minha vida dentro da minha simplicidade, não posso por ora resolver problema, mas abro mão de pelo menos parte. 9 mil pais de família, efeito cascata que isso gera, quantas pessoas tiveram salários redimensionados, empresaa que demitem até mil pessoas por dia?


Macaenses aprovam


A medida foi bem recebida pela população. “Considero uma demonstração de desprendimento aos valores materiais e uma clara evidência de amor e zelo pela coisa pública. Sei que em Macaé temos outras autoridades eletivas que possuem iguais condições financeiras particulares e mesmo assim não renunciam ao salário, pois estão nos cargos públicos apenas por questões de ganho financeiro e não por amor à causa pública”, disse o macaense Gernandes, de 43 anos, funcionário da Petrobras.

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