Rio - Outro dia, num debate sobre dificuldades enfrentadas pelos jornais em meio a tanta informação gratuita, o editor de uma importante publicação paulista ressaltou que, hoje, muita gente não quer saber de notícias que contrariem suas crenças e preferências. Habituadas às redes sociais, essas pessoas aceitariam apenas informações que reafirmassem suas convicções, mesmo que sejam boatos ou mentiras. Assim, tucanos evitariam saber o que pensam aqueles que consideram petralhas, petistas tratariam de ignorar todos os que classificam de coxinhas.
O Facebook nos permite bloquear os indesejados, o que facilita a tarefa de construir um mundo quase ideal, habitado por pessoas parecidas, que gostam dos mesmos times, das mesmas músicas, que rejeitam os mesmos políticos. Em meio a tanta agressividade na internet,é grande a tentação de usar o cartão vermelho virtual. Muitos trocaram argumentos por ofensas, ficou difícil argumentar, questionar, apontar contradições: a discussão foi substituída pelo xingamento, ideias divergentes são atacadas, espezinhadas.
E, aqui, volto aos jornais, que teimam em nos apresentar fatos que sacodem nossas certezas, mostram pecados de supostos santos, roubalheiras de quem se apresentava como honesto, fragilidades de defesas que pareciam impenetráveis. Não fazem isso porque gostam de estragar o nosso dia, mas para que, informada de suas mazelas, a sociedade fique indignada, cobre soluções, pressione os poderes. Notícias também permitem que possamos conhecer aqueles que são diferentes de nós, que torcem por outros times ou partidos, pessoas que sofrem nos hospitais, que são vítimas de bandidos ou mesmo da polícia, que são discriminadas, que perderam o emprego. Ao compreender aqueles que desconhecemos, nos tornamos mais humanos — e, assim, damos oportunidade para que outros nos entendam e nos aceitem.
Todos somos diferentes uns dos outros. Mais do que buscar semelhanças é preciso conhecer e compreender as divergências, aprender que adversários não são necessariamente inimigos. Numa época em que se dá tanto valor a certezas e a verdades absolutas, é fundamental abrir espaço para a dúvida, para o questionamento, não podemos deixar de ser curiosos, de tentar saber o que se passa na rua, no bairro, na cidade, no estado, no país, no mundo. Nas páginas desta edição do DIA você terá uma boa mostra da diversidade que nos cerca. Leia, comente, compartilhe, reclame do que não estiver correto ou bem explicado — e volte sempre, a casa é sua.
E-mail: fernando.molica@odia.com.br