Por bianca.lobianco
Rio - Um suicídio transmitido ao vivo. Mesmo em tempos de internet com todos conectados, cogitar isso poderia ser considerado o cúmulo do absurdo, mas, infelizmente, foi um fato recente. Mais do que traumática, essa tragédia reflete a preocupante condição psicológica de uma categoria profissional que há décadas clama por melhores condições de trabalho, respeito e dignidade, ao mesmo tempo em que assiste ao crescimento do crime organizado.
O soldado Douglas Vieira, que chocou a todos ao se matar com um tiro na cabeça, com transmissão pelas redes sociais, não pode ser ignorado. Ele é o retrato do alto grau de estresse em que vivem os policiais militares no Rio, perseguidos e assassinados como em nenhum outro lugar.
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Em recente levantamento apresentado no Fórum dos Policiais Mortos e Feridos, em duas décadas, o Estado do Rio contabilizou mais de 3,2 mil PMs mortos e quase 15 mil feridos, o que corresponde a 19,65% do efetivo disponível no período, cerca de 90 mil homens. Esse índice é maior que as perdas da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Somente neste ano, que mal iniciou, o balanço de janeiro foi de quase 20 PMs mortos e outros 42 feridos. Um aumento de 80% nos casos se comparado com o mesmo período de 2016.
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Nesse contexto, fica fácil entender o porquê de o estresse e de a depressão estarem entre as principais causas de afastamento. Mal silencioso que levou a quase 1.400 licenças psiquiátricas concedidas. Dados do Núcleo Central de Psicologia da corporação revelou que em 2016 foram mais de 20 mil atendimentos para um universo de 2.296 pacientes, 46% deles da ativa.
Se recentemente a ex-primeira dama Marisa Letícia teve morte cerebral, após um AVC, os policiais, ou melhor, todos os agentes de segurança do Rio, sofrem de um tipo de morte cerebral lenta e cruel, causada pela tensão diária no exercício da profissão. Todos os problemas envolvidos, como as más condições de trabalho, baixos salários, atrasos nos pagamentos e o confronto com os criminosos levam esses profissionais a sofrer tipo peculiar de AVC — Ataques de Violência Constantes, seja do poder constituído, que falha no suporte à polícia, seja do poder paralelo, cujo objetivo é eliminá-los a qualquer preço. 
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*Marcos Espínola é advogado criminalista