Por thiago.antunes

Rio - Parece inacreditável, e é, mas tem gente que ainda acredita que uma intervenção militar seria a solução para nossa pouca-vergonha institucionalizada. Trata-se ou de burrice, o que é algo delicado, ou de ignorância. Burrice é questão complicada de se curar. Mas podemos amenizar a ignorância com alguns livrinhos de história viva.

A primeira dica é “Em nome dos pais”, do jornalista Matheus Leitão. Narra a prisão dos pais durante a ditadura, em 1972, e mostra sua recente tentativa de entrevistar os militares que os torturaram. Militantes da esquerda e acusados de terrorismo, os dois comeram o pão que o diabo amassou e, como tantos outros, tiveram seus direitos básicos desrespeitados de maneira boçal.

Detalhe 1: a mãe de Matheus estava grávida quando passou nos quartéis. Numa das torturas que sofreu, ficou trancada numa sala escura junto com uma jiboia de três metros de comprimento. Saiu da cadeia pesando 39 quilos. E ainda há generais que negam a existência de torturas durante a ditadura. Incrível.

Detalhe 2: a mãe de Matheus atende pelo nome de Miriam Leitão, premiadíssima jornalista de economia que hoje está longe de ser considerada de esquerda. Muito pelo contrário.

Enfim, “Em nome dos pais” é uma grande reportagem do Matheus, sem deixar de lado sua narrativa pessoal sobre fatos que muita gente gostaria de esquecer. Foram anos traumáticos, e o jornalista costura tudo com muito talento. No fim das contas, a mensagem é: a ditadura não é amiga de ninguém. Acreditar em intervenção militar, depois deste livro, é assinar um atestado de burrice. O que não deixa de ser uma prisão.

Por falar nisso, a segunda dica é “Prisioneiras”, do Drauzio Varela – aquele médico do “Fantástico” que dispensa apresentações. Com décadas de experiência trabalhando no sistema prisional, ele faz um retrato muito forte das presidiárias com quem conviveu nos últimos dez anos.

Um livro inquietante, uma aula de como a vida real funciona lá dentro, com seus mandos e desmandos, justiças e injustiças, sonhos e muitos pesadelos. É uma longa conversa, que Drauzio resume com muita propriedade.

O recado, desta vez, é: nossa legislação antidrogas nos trouxe ao pior dos mundos. E se nada for feito para mudar esse cenário, não haverá presídios suficientes para conter o resultado da infância negligenciada, do preconceito e da falta de informação.

Ainda bem que a gente aqui fora não tem nada a ver com isso, né não? Bom... se você pensa assim, este livro é obrigatório.

Nelson Vasconcelos é jornalista

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