Por thiago.antunes

Rio - No momento em que, no Brasil, vivemos a triste realidade da corrupção e do desemprego, o Papa Francisco traz ao Cristianismo toda uma concepção crítica sobre pobreza versus luxo, orgulho e vaidade dos poderes civis e eclesiásticos. Segundo o Santo Padre, o desprestígio do trabalho político precisa ser revertido porque a política tem que ser uma forma mais elevada de caridade social.

No passado, o Banco do Vaticano era o acionista principal do Banco Ambrosiano, que faliu e deixou rastro suspeito de membros da Sé. Tão logo o Papa assumiu, definiu política administrativa a partir do princípio de que Deus não é uma empresa financeira que, todo dia, envia mensagens e negocia bens.

Hoje o Banco do Vaticano, administrado por especialistas da confiança do Papa, volta-se para o social e ações beneficentes nas comunidades pobres do Vaticano. O amor social, para o Pontífice, se expressa no trabalho político para o bem comum. Francisco enfatiza a importância que o conceito de dívida social tem para nós.

Em todo usufruto deve-se considerar a dimensão da dívida social. Hoje, o balanço do Vaticano é público e sempre dá déficit: o que entra por doações ou por visitas aos museus vai para leprosários, escolas, comunidades africanas, asiáticas, americanas.

O verdadeiro poder da Igreja tem que ser o serviço. Não se pode adorar a Deus se o nosso espírito não acolheu o necessitado com compaixão, colocando-se no lugar dele. A compaixão é reação motivada principalmente pela emoção e também compromisso definitivo apoiado pela razão.

É praticando a compaixão sem limites que uma pessoa desenvolve o sentimento de responsabilidade pelo semelhante. Pouco importa se somos crentes ou agnósticos, se cremos em Deus ou no carma. A ética moral é preceito que todos somos capazes e precisamos de qualidades, como senso moral, piedade e humildade.

A Igreja possui muitas dimensões, comporta diferentes realidades e muitos tipos de pessoas. Mas Francisco inicia um novo capítulo na história da Igreja. Ele não está mudando as regras, nem os ensinamentos em si, muda o espírito da instituição ao deixar implícito que não é a hierarquia ou a autoridade que têm todas as respostas.

Está dizendo às pessoas que é preciso interpretar os ensinamentos de acordo com a situação de cada um. Padres e leigos devem ter consciência e sentido de responsabilidade perante situações concretas.

Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor

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