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Por Júlio Furtado Professor e escritor

Temos no Brasil cerca de 2 milhões de professores atuando na Educação Básica (Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio). De acordo com o Censo Escolar de 2017, apenas 4,2% de todos os professores têm até 24 anos, número superior apenas aos que já possuem mais de 60 anos, que totalizam 3,2% do total. As escolas públicas congregam 80% dos professores, dos quais mais da metade possui 40 anos ou mais. Os professores estão envelhecendo e uma nova geração não está surgindo. Parece que alguma coisa precisa ser feita e urgentemente.

Classicamente, o que atrai os jovens para uma profissão é um misto de bons salários, boas oportunidades de emprego e status social. A profissão de professor tem algum destaque, apenas nas oportunidades de emprego que não podemos chamar exatamente de boas. Essa fórmula talvez não seja apropriada para uma análise da profissão docente, pois não explicita o que, ao que tudo indica, verdadeiramente atrai alguém para ser professor: o potencial humanizante dessa atividade. Entrevistas feitas com jovens professores apontam que, em grande parte, a escolha profissional partiu de uma experiência pessoal positiva com algum professor. Algo do tipo "ela me ajudou a superar minhas dificuldades e me fez sentir capaz; senti vontade de fazer o mesmo por outras crianças e jovens".

Convencionalmente, um bom professor precisa reunir três tipos de competências essenciais: competência técnica (saber o que ensinar e como ensinar), política (saber por que e para quê ensinar) e relacional (saber estabelecer uma relação horizontal antes da vertical). É nessa última que reside o potencial humanizante da profissão. Estabelecer uma relação horizontal pressupõe olhar o outro como um ser com anseios, potencialidades e limitações, como todos nós. É essa competência que diferencia o fazer docente, ao ponto de inspirar outros a desenvolvê-la.

Parece-me que o olhar humanizante é o grande fator que caracteriza os grandes professores, ao mesmo tempo que inspira jovens a seguirem a profissão. Podemos inferir que se potencializarmos esse olhar poderemos aumentar essa boa inspiração. Não estou aqui minimizando ou reduzindo a questão do futuro do magistério, mas, com certeza, estou colocando luz num elemento nada desprezível para o planejamento desse futuro.

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