Marcus Tavares, colunista do DIA - Divulgação
Marcus Tavares, colunista do DIADivulgação
Por O Dia

Rio - Outro dia numa roda de conversa ouvi a seguinte frase: "Hoje em dia eu até me assusto quando alguém me liga pelo telefone. Resolvo tudo pelo WhatsApp". Reconheço que deve ser muito comum. O aplicativo é prático, objetivo, instantâneo e, o que é melhor, gratuito. É uma mão na roda. Por meio dele, podemos enviar mensagens sonoras, vídeos e fotos. Não é à toa que, hoje, cerca de 120 milhões de brasileiros são usuários ativos. Com certeza, você faz parte deste grupo, participando de diferentes grupos de escola, família, trabalho e estudo.

Eu também faço parte, mas, quer saber, prefiro o telefone, nem que seja fazendo a chamada pelo próprio aplicativo. Quando era criança, muito antes de a internet chegar, brincava com os amigos dizendo, ao final de cada ligação telefônica, "viva Graham Bell". Tratava-se de uma referência a Alexander Graham Bell, o então inventor do telefone ('então' porque li outro dia que o italiano Antonio Meucci é considerado, agora, o 'pai da criança'). Como o aparelho de telefone resolvia coisas e aproximava as pessoas!

Acho muito chato ter que ficar escrevendo, escrevendo, escrevendo no aplicativo. É tão mais prático e direto falar do que escrever (não estou contra a escrita, por favor). É um tanto angustiante quando você está naquela conversa, via WhatsApp, vendo que a pessoa está di gi tan do. Você fica preso ali, esperando ela/ele acabar de di gi tar. E quando a pessoa do outro lado desiste e não digita. Ahhhh, quanta angústia!!! Isso, é claro, sem falar no tempo perdido esperando a resposta. É ou não é mais simples fazer a chamada via o aplicativo?

Pior do que escrever é conversar por meio de áudios. Já aconteceu isso com você? A pessoa não escreve, mas envia/grava áudios. Diversos áudios. Muito chato. Um áudio de cá, um áudio de lá e assim flui (flui?) a conversa em doses homeopáticas. Meu Deus, por que não faz a tal da chamada? Hoje em dia temos inclusive a chamada em vídeo. Às vezes, tomo a iniciativa. Vejo a pessoa escrevendo um testamento ou gravando diversos áudios e ligo. Pra quê? Na maioria das vezes, a pessoa ignora a chamada e segu escrevendo/gravando áudios. Isso me dá uma raiva.

Mensagens e áudios são bem-vindos em dados momentos e ocasiões. Numa reunião de trabalho, por exemplo, a gente consegue resolver várias coisas. No trânsito, também. Mas fora isso, não vejo razão. A pesquisadora e professora Sherry Turkle, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, vem pesquisando a relação entre o humano e os artefatos computacionais há cerca de 30 anos. Em um de seus estudos ela cunhou a teoria da solidão conectada. Segundo ela, estar sozinho vem se tornando uma precondição para estar conectado. E mais: ela diz que, nos dias de hoje, as pessoas buscam se conectar, mais e mais, por meio das mídias digitais, porque as tecnologias nos ajudam a lidar com medos contemporâneos, como o da solidão e o de criar vínculos muito próximos com os outros. Será? Fica a reflexão!

Marcus Tavares é professor e jornalista

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