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Por O Dia

Rio - 'Ele chegou silenciosamente, como uma tarde de inverso que inesperadamente substitui o Sol da alegria por ventos de tristezas. Uma tristeza oculta, enclausurada no casulo do subconsciente. Por isso, não vi nem mesmo o momento que Ele, suavemente tocou a maçaneta da porta da sala e entrou. Entrou feito um vento fino e gelado sem dizer o seu nome, a sua cor, entrou sem cheiro, sem tato ou contato. Entrou silenciosamente e fez de mim a sua morada. De lá pra cá os dias pareciam diferentes, como se o Sol que habita em mim estivesse sendo paulatinamente massacrado pelo intenso e taciturno inverno, que começava a fazer desaparecer gostos das coisas... Ele é apenas um intenso e doloroso inverno. Até um dia eu acordei e...".

Possivelmente, ao começar a ler esse texto você pode estar se perguntando qual foi o fim dessa estória? Será que é real ou fictícia?

Pois bem, o pequeno fragmento que escrevi traz em si uma dose de ficção e realidade. Ficção, pois isso não aconteceu comigo e realidade porque possivelmente Ele pode estar entrando silenciosamente em contato com você e outras milhares de pessoas, que estão ou não lendo esse texto. O suicídio não tem cor, não tem cheiro, não fala apenas acontece. Considerado um tabu, o assunto ainda enfrenta grandes dificuldades na identificação de sinais, oferta e busca por ajuda, precisamente pelos preconceitos e falta de informação. Segundo os dados do Centro de Valorização da Vida, em média, 32 suicídios acontecem diariamente no país, média de uma morte a cada 45 minutos.

Mas essa triste realidade pode ser reduzida a partir do momento em que a sociedade, bem como os órgão públicos, começarem a se conscientizar que o suicídio é um problema social. E não falar sobre o assunto é a pior forma de prevenção, pois os dados falam por si.

E a razão por não ser comentado ou noticiado é justamente porque nossa sociedade é construída todos os dias sobre a falsa ideia de felicidade, bem estar social, culto ao corpo e felicidade permanente. Ideia que não podem ser confrontadas com baixa estima, frustrações, mazelas sociais, impunidades.

Todo inverno acaba, mas o verão precisa ser construído. Precisamos conversar sobre o suicídio antes que o corpo transborde e transforme em estatísticas mais uma vítima do assunto indesejado.

Marcelo Rosa é Subsecretário de Direitos Humanos de São João de Meriti

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