Luís Pimentel, colunista do DIA - Divulgação
Luís Pimentel, colunista do DIADivulgação
Por O Dia

Rio - Comecemos com o caso do menino Tomaz. Conta-se assim: Rosângela Lúcia de Souza Santos, de 36 anos, descreveu emocionada como foram os últimos momentos do filho, de 14 anos, morto após ser atingido por uma bala perdida na Baixa do Salseiro, na localidade conhecida como Cidade do Pai. Segundo ela, o garoto estava brincando quando foi atingido nas costas, no momento que começou uma troca de tiros.

"Meu filho estava brincando na pracinha, à noite, quando começou o tiroteio. Ele veio correndo e gritando 'mamãe, mamãe, levei um tiro; eu não quero morrer, fala com Deus!' Levantei a camisa dele e não vi nada. O tiro foi nas costas. Esperamos quase uma hora minutos por socorro, mas ninguém ajudou", contou a mulher, que está desempregada e sustenta os cinco filhos com a venda de salgadinhos: "O sonho do meu filho era ser jogador de futebol, mas o que ele mais queria agora era ter um quarto só dele. Estávamos construindo um barraco".

"É só mirar na cabecinha e... fogo!", disse o governador eleito.

No enterro do policial assassinado por traficantes no Morro do Desespero, logo após a tradicional salva de tiros o colega de farda pediu a palavra: "É o trigésimo de nós que tomba nos últimos trinta dias. Um por dia. A guerra é desigual".

"É só mirar na cabecinha e... fogo!", disse o governador eleito.

No mesmo dia, um adolescente morreu depois de ser atingido por uma bala perdida no Morro da Esperança, na Vila da Santa. Wolney Araripe Fonseca, de 16 anos, estava na casa de um amigo, na localidade conhecida como Monturo. Ele chegou a ser levado para o Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.

Em nota, a Polícia Militar afirma que no momento do crime, policiais que atuam na área, "em minucioso trabalho de pacificação" estavam na região e foram atacados por criminosos.

"É só mirar na cabecinha e... fogo!", disse o governador eleito.

Um pouco mais tarde, pertinho dali, o policiamento na Favela do Beiçudo pediu reforços durante a madrugada, após uma noite de violência que deixou um adolescente morto, além de três policiais militares e um suspeito feridos. Sabe-se que o garoto tinha 17 anos. Não se sabe o nome, muito menos quem pode neste momento estar chorando por ele.

"É só mirar na cabecinha e... fogo!", disse o governador eleito.

Em depoimento que já está no gabinete da procuradora-geral da República, o miliciano Antônio da Silva Costa, o Tonho da Matraca, dá sua versão para o assassinato da vereadora e do motorista. Um dos principais investigados pela Delegacia de Homicídios da Capital, Matraca afirma que os dois foram executados pelo Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel formado por policiais militares da ativa e ex-policiais.

"É só mirar na cabecinha e... fogo!", disse o governador eleito.

(Crônica vergonhosamente baseada em fatos reais)

Luís Pimentel é jornalista e escritor

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