Eugênio Cunha, colunista do DIA - Divulgação
Eugênio Cunha, colunista do DIADivulgação
Por O Dia

Rio - O antropólogo Roberto DaMatta, em seu livro 'Fé em Deus e pé na tábua', observa que o trânsito, que é um espaço público de encontro de classes sociais diferentes, é também um espaço de comportamentos irascíveis, muitas vezes incondizentes com a maioria das pessoas.

As mesmas pessoas que estão amistosamente fazendo algo simplório, como, por exemplo, aguardando uma consulta médica ou conversando cordialmente, podem logo depois estar discutindo no trânsito, quando não fazem coisa pior.

Vejo que um fenômeno similar ocorre também nas redes sociais. Twitter, WhatsApp, Facebook viraram arenas de combates. Indivíduos que estão juntos num ponto do ônibus ou num restaurante não se entreolham como inimigos. Porém, esses mesmos tácitos cidadãos quando estão conectados em rede podem ter sentimentos extremamente opostos, quando o outro não expressa uma opinião igual a sua.

Tivemos uma boa percepção disso durante a campanha eleitoral. Não somente nesse período, mas o histórico das interações em ambientes da internet está carregado de injúrias, preconceitos e ofensas. Quem são essas pessoas que se manifestam às vezes de forma intolerante, homofóbica e misógina, quando têm o poder de digitar o que pensam?

A vida para o brasileiro não está fácil. E uma porção colérica, primitiva e irracional parece emergir por conta de uma provocação, contrariedade ou insatisfação. Algo mais forte que a razão.

Se há em cada um de nós as contradições inerentes ao caráter humano, há também uma porção altruísta. Quando estava terminando este artigo, lembrei-me da tragédia ocorrida dias atrás, em Niterói, após um deslizamento atingir imóveis no Morro da Boa Esperança. Profissionais da Defesa Civil, Assistência Social, Corpo de Bombeiros, dentre outros, formaram uma grande força de trabalho, unindo-se a uma multidão de voluntários, trabalhando incansavelmente no local.

Alguns dos voluntários, pessoas comuns, formavam filas aguardando a sua vez para ajudar. Em menos tempo do que se previa, toda a coleta de donativos atingiu o número de itens necessários para as famílias desabrigadas.

Somos assim. Formamos um mosaico de tipos, jeito e cores que nos tornam tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. É preciso deixar prevalecer, então, o nosso melhor lado: aquele que provoca a virtude de acreditar na generosidade humana.

Eugênio Cunha é professor e jornalista

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