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Arte: O Dia
Por O Dia

Rio - Mudanças no estilo de vida das pessoas e a evolução tecnológica na Medicina são apenas dois motivos que fazem com que muitos especialistas definam o século XXI como o 'Século do Envelhecimento'. A velocidade do envelhecimento populacional brasileiro é destaque no cenário internacional: os idosos brasileiros (65 anos e mais) atingiram a proporção de 7% em 2012. Essa proporção deve ir a 14% em 2031 e dobrar novamente para 28% em 2062. Isso fará com que, muito em breve, estejamos entre os dez países do mundo com a maior população idosa.

Será que nossas cidades, empresas e indivíduos estão adaptados para esse novo cenário que se apresenta?

O aumento da expectativa de vida das pessoas representa um dos maiores avanços já obtidos pela ciência moderna. Mas é preciso atuar para que o prolongamento da vida se dê com qualidade. Nesse contexto, é fundamental entender, discutir e conectar os papeis do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada na promoção do envelhecimento ativo e da longevidade.

No Brasil, ainda que haja atenção na legislação de proteção ao idoso, prevalece a percepção de carência na implementação de políticas públicas. Ou seja: a agenda é muito focada na velhice e pouco atenta ao processo do envelhecimento.

O Itaú Unibanco, por exemplo, inaugurou em 2018 uma plataforma de discussão e proposição de ações para o tema. Num primeiro momento, essa atuação ocorre com geração de conteúdo e pesquisas que vêm sendo compartilhados com governantes, conselhos municipais dos idosos, entidades de classe e sociedade civil.

Esses conteúdos têm sido abordados em ciclo de debates em cinco cidades brasileiras (Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) para fomentar a discussão sobre políticas públicas e compartilhar casos de sucesso em diversos países. Bons exemplos não faltam.

A cidade de Colônia, na Alemanha, implantou com sucesso um programa de moradia gratuita para pessoas de baixa renda que compreende 'residências multigeracionais'. Desde 2009, a iniciativa, chamada 'The Living for Help', promove o convívio de estudantes e pessoas idosas que precisam de assistência diária.

Em Miami, nos Estados Unidos, um movimento que une sociedade civil, iniciativa privada e autoridades locais têm como principal entrega a criação dos 'Age Friendly Parks', que procura adaptar parques públicos de maneira que se permita sua utilização por pessoas idosas, estimulando a prática de atividade física e convívio social.

No Japão, mais especificamente na cidade de Yokohama, onde 22% da população é idosa, criou-se um programa de recompensas que converte em pontos as caminhadas feitas pelas pessoas com mais idade. Esses pontos dão direito a brindes em lojas da região. Mais de 100 mil pessoas se cadastraram nos primeiros seis meses da iniciativa.

Há que se destacar também oportunidades de geração de renda para os mais idosos, advindas da chamada 'nova economia', ou economia compartilhada. Um dos mais populares serviços de 'house sharing' do mundo divulgou recentemente que mais de 10% dos anfitriões cadastrados têm mais de 60 anos de idade.

No Brasil, já há alguns anos foi criado o Fundo do Idoso, mas a sua utilização está muito aquém do potencial, assim como a utilização dos recursos nas esferas federal, estadual e municipal. Ainda não temos nenhum município que possa ser reconhecido pela eficiência de sua política pública para o tema.

Outros destaques positivos são iniciativas brasileiras como a chamada 'Lei do Regime Especial do Trabalhador Aposentado', trabalho proposto por uma instituição social privada em parceria com uma universidade, cujo objetivo é facilitar a participação de aposentados com mais de 60 anos no mercado formal de trabalho - ainda em discussão na esfera legislativa. Importante também lembrarmos da criação da Universidade da Terceira Idade, que oferece cursos de graduação para pessoas com mais de 50 anos.

As iniciativas bem-sucedidas, aqui e lá fora, mostram que o envolvimento de diferentes atores promove interdisciplinariedade nas políticas públicas, tendo como caminho ideal a co-criação com especialistas das diversas áreas de atenção de longevidade: habitação, urbanismo, saúde e mobilidade urbana, entre outras.

Juntos, iniciativa privada, poder público e sociedade civil têm a oportunidade de criar um novo modelo que possa se tornar referência para o desafio da mudança demográfica e da revolução da longevidade. Temos que começar o quanto antes. O tempo não para.

Luciana Nicola é superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú

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