Por O Dia

Rio - Já parou para pensar que a vida poderia ir além das duas posições extremas denominadas pessimismo e otimismo? E que se estratificar numa dessas posições significaria deixar de vivenciar várias experiências? Para uma pessoa otimista, a vida é rica em oportunidades e cada obstáculo é visto como superável; já o pessimista deixa muitas vezes de experimentar por acreditar que as possibilidades possam ser negativas; se surge uma adversidade surge também motivo para a crença de que não logrará êxito.

Enquanto o otimista percebe a realidade com lentes coloridas, o pessimista tende a olhar a vida com lentes em preto e branco. Ambos os aspectos podem trazer prejuízos físicos e/ou emocionais uma vez que desconsidere a realidade. Considerar a realidade pressupõe colocar o termômetro para verificar se é possível avançar, ou se é preciso recuar, ou ainda avaliar o melhor modo de continuar, se aquilo que se vê condiz ou não com sua observação. Seria essa uma perspectiva mais realista? Podemos dizer que o pessimismo e o otimismo são complementares, dinâmicos e oscilam em todas as pessoas.

Mas como explicar que determinadas pessoas sejam mais otimistas do que outras e vice versa? Em dado momento pode ser que um desses aspectos tome a frente; e se observa que em alguns indivíduos sobressaem mais um lado do que outro e por isso pode se comentar que fulano é otimista enquanto beltrano é pessimista.

Há uma conjunção de aspectos que são inatos e mais a estória pessoal. Porém se um lado sobressai, o outro fica mais apagado, mas está ali, nunca inexistente. O pessimista se apega ao mesmo, é impotente diante do novo, não se expõe. Para ele, é melhor não arriscar, o fracasso é iminente. Uma postura pessimista diante da vida empobrece a existência e pode adoecer.

Ter uma visão otimista pode contribuir para o bem estar físico e mental; entretanto otimismo exacerbado tende a euforia e visão idealizada, afastando o indivíduo da noção de limite e realidade. O equilíbrio ou a integração entre esses dois aspectos é o que melhor favorece ao individuo poder lidar de forma saudável com sentimentos. A maturidade muitas vezes trás em sua bagagem uma visão de mundo mais realista, mais integrado, menos ingênuo, mas não menos colorido.

Acrescente-se aí uma pitada de esperança, do verbo ‘esperançar’ que segundo as indagações de Paulo Freire, educador brasileiro, é diferente de esperar. Esperançar seria para ele atitude dos realistas que estaria intimamente ligada a ‘sonhar’, ‘buscar’, ‘agir’, que é o oposto de esperar. Para se juntar a isso nada melhor que uma boa dose de humor.

Uma pessoa que faz graça, que possui uma visão positiva da vida, mesmo diante de circunstâncias menos coloridas , tende a levar as situações de modo mais leve. O humor, a graça de espírito, é considerado um valioso recurso, que pode ser inserido entre as coisas boas da vida e que tem a função de tornar alegres as mazelas da existência humana. De algo que poderia estar difícil surge com otimismo um novo criativo.

O senso de humor permite a inscrição da intensidade pulsional no universo das representações. Em seu sentido transgressor permite que o sujeito afirme seu desejo contra a condição humana – o desamparo, o envelhecer, o adoecer - trazendo maior flexibilidade, criatividade e enriquecendo o existir. A sabedoria está na integração de ambos os aspectos e na capacidade de olhar a vida através da lente do humor e, portanto, ousar rir.

Renata Bento é psicóloga, especialista em criança e família

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