Júlio Furtado  - Divulgação
Júlio Furtado Divulgação
Por O Dia

Viver a Semana Santa envolve mergulhar em reflexões profundas a respeito do sentido de ressuscitar e, independentemente de religião ou até mesmo de fé, podemos aproveitar o período para buscar analogias que possam ser úteis ao momento que estamos vivendo. No sentido micro, essa ressurreição pode referir-se às questões comportamentais ou emocionais que estejam precisando ser ressignificadas em cada um de nós. Numa visão macro, podemos pensar em caminhos para a ressurreição do país ou da educação brasileira. Escolhemos, pois, o caminho do meio (nos dois sentidos da palavra): pensar sobre a figura do professor.

O professor nasceu na Era das verdades inquestionáveis, o que fez dele uma autoridade. A própria etimologia da palavra denuncia isso: “aquele que professa”. Durante séculos o professor foi inquestionável e, por isso, absoluto em suas verdades. A escola da verdade, porém, começou a ruir por volta da década de 30 do século passado, com o surgimento do movimento da Escola Nova, que colocava o aluno como centro do processo ensino-aprendizagem. Inaugurava-se, aí, a Era do professor facilitador, o professor-meio, em oposição ao professor-verdade. De alguma forma, podemos dizer que estamos vivendo essa transição até os dias de hoje.

Nas décadas de 70/80 vivemos o fenômeno da democratização da escola pública, que se caracterizou pelo esforço de colocar todas as crianças e jovens em idade escolar na escola. Nasce aí a escola que deve proporcionar aprendizagem para todos e não apenas para os melhores. Junto com ela, nasce a escola das promessas de uma vida melhor para os que estudassem. Nela, surge o professor-salvador, que seria o redentor de tudo isso.

Os anos 2 mil trouxeram o fracasso da escola das promessas que não foram cumpridas. A maioria dos que a frequentaram não encontrou o seu lugar ao sol como prometido, e esse fato inaugurou a escola das incertezas, que trouxe junto o professor desacreditado que busca reconstruir sua identidade e recuperar sua autoestima.

A ressurreição do professor depende de diversos fatores objetivos e subjetivos. Melhores condições de trabalho, salários dignos e formação inicial e continuada de qualidade compõem a dimensão objetiva. Acreditar em si, mesmo depois de encarar a via-crúcis do cotidiano, resgatar a confiança no próprio trabalho e renovar a esperança na educação ficam por conta da infinita fé que nos move. Oremos!

 Júlio Furtado é professor e escritor.

 

Você pode gostar
Comentários