Ricardo Cravo Albin - reprodução
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Por O Dia

Rio - A última semana pespegou em meu coração dois sentimentos de horror. O primeiro, o amargor ao ver a Notre Dame de Paris envolta em labaredas. Não cabe aqui me alongar sobre a importância arquitetônica, literária e histórica da mais bela catedral do mundo.

Há um certo desígnio agourento de a tragédia ocorrer ao se encerrar o Domingo de Ramos, abertura da Semana Santa. Aliás, os responsáveis pelo nosso Palácio da Quinta no Rio deveriam ter pedido perdão ao país em nome do Presidente da República. Em contraponto à agilidade do francês Macron, que interrompeu severo discurso de estado ao saber da tragédia na Catedral. E rumar em minutos ao encontro do fogaréu.

A segunda lágrima desta “semanna horribilis” é a gravíssima e inédita censura que Dias Tofolli, o presidente do Supremo, infligiu ao país, sem pudor, ao empastelar as revistas Crusoé e o Antagonista. Elas exerceram o direito de informar tramoias, porque pessoais e não institucionais, de um cidadão brasileiro, embora encoberto pela toga respeitosa do STF. O “esprit de corps” foi usado ladinamente pelo acusado, impondo o opróbio da censura a outro ministro, o agora também já suspeito Alexandre de Moraes. A criminosa castração de um evento que nada tem de institucional, porque estritamente particular, é de amplo conhecimento público, denunciado exaustiva e reiteradamente pelo empresário e delator Marcelo Odebrecht, a partir da frase testemunhal “o amigo do amigo do meu pai”. Que todo o Brasil sabe o que quer dizer.

 Ainda bem que a brutal violentação do parágrafo constitucional de 1988 que pulverizou a censura não foi – nem poderia ser – engolida por gargantas honradas que tomam assento no mais alto panteão do país. Acrescidas, em seguida, por opiniões corajosas, necessárias e de pleno Direito de Raquel Dodge e do ex presidente do STF, o admirável Ayres Brito.

 Acodem-me agora as aulas de Santiago Dantas, Evandro Lins e Silva e Hermes Lima (este meu patrono) na antiga Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Os mestres nos advertiam que não esperássemos dos integrantes do Supremo tão somente vestais do Direito, apenas pelo uso simbólico e austero da toga. Ao contrário, o disfarce poderia encobrir cidadãos de vil extração. O comentário geral do país é de indignação ao se perguntar “como ministros jovens se comprazem por manchar suas biografias tão verdes, ao abraçar o horror da censura”. O pior: em nome de argumentos pífios, repulsivos e anticonstitucionais.

Felizmente, a consciência da nação, ao que se vê, não se deixa enganar pelo argumento de fake news para encobrir malfeitos pessoais de certos Ministros. É censura sim, o triste episódio de agora. Das cavilares. E das mais cabeludas.

Daqui louvo o Vice Presidente General Hamilton Mourão, que teve a hombridade de não concordar com a tramoia. Modestamente, nós, que lutamos pela pulverização da censura em 1988 ao lado de Ulisses, sempre acompanhados por Pompeu de Sousa e Bernardo Cabral, jamais deixaríamos de denunciar tal vilania. E empulhação.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin

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