Por adriano.araujo

Rio - O músico Cesinha, do Pique Novo, e sua mulher viveram momentos de terror em Nilópolis há oito dias. Letícia Guimarães, ex-rainha do Carnaval do Rio e atual majestade da Inocentes de Belford Roxo, e o pagodeiro ficaram em pânico com uma arma apontada para a cabeça por três criminosos. O casal ficou sem o carro e com enorme trauma de andar pelas ruas da região. “É um susto que traumatiza. Estou com medo de sair na rua”, desabafou Letícia.

O drama experimentado pela dupla de celebridades não é uma exceção. Os números sinalizam uma escalada preocupante da criminalidade na região. De acordo com os últimos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), cidades da Baixada,como Nilópolis, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São João de Meriti, registraram aumento da violência em janeiro. Uma das explicações está no regime de trabalho dos policiais.

No K11%2C bairro nobre de Nova Iguaçu%2C moradores e até policiais já foram expulsos por criminososDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Com a falta de pagamento do Regime Adicional de Serviço (RAS), desde outubro, muitos policiais, que faziam hora extra para a própria corporação, deixaram de trabalhar, e os índices de ocorrências deram um salto.

Na área do 20º BPM (Mesquita), que abrange Mesquita, Nova Iguaçu e Nilópolis, e onde vive cerca de 1,4 milhão de habitantes, o número de roubos de veículo no mês de janeiro subiu de 306 para 374 casos. Os assassinatos também aumentaram e chegaram à triste média de dois homicídios por dia — passaram de 41 para 60 casos, em janeiro de 2016, 21 mortes a mais do que no mesmo período do ano passado.

“Em janeiro e fevereiro apreendemos 42 armas. Ultrapassamos nossa meta de 30 armamentos. As regiões que mais nos preocupam são: Nilópolis, que fica próximo do Chapadão e à Estrada de Madureira, e Nova Iguaçu, onde há 21 comunidades”, diz o comandante do batalhão de Mesquita, tenente-coronel Roberto Christiano Dantas.

No K11 e Coreia, comunidades que ficam em Nova Iguaçu e Mesquita, uma guerra de facções tem retirado famílias de suas casas. Em um ano, cerca de 20 pessoas, entre elas seis policiais, foram expulsas por bandidos.

Tráfico parou coleta de lixo

Em São João de Meriti, que conta com uma média de 50 PMs escalados por dia para proteger 467 mil habitantes, o aumento no roubo a pedestres subiu de 222 casos para 292 no mês passado, comparado com o mesmo período de 2015. A falta de efetivo do batalhão, que é de 236 policiais, preocupou também o prefeito Sandro Matos, que promete contra-atacar.

“Vamos pedir para os novos recrutas da PM, que ainda não se formaram e não possuem o porte de arma, para ajudar no policiamento das áreas comerciais. Assim é possível reforçar comunidades mais críticas com policiais experientes. Mas nossa preocupação maior é com roubos de carros”, lembrou o prefeito. Segundo ele, traficantes chegaram a impedir a coleta do lixo em alguns bairros, como Castelinho, Engenheiro Belford e Vila Norma. “O Batalhão e Bope dão apoio na coleta”, contou. 

Números mostram crescimento da violência na BaixadaArte O Dia

Criminosos seriam de Costa Barros

Para especialistas em segurança pública, as ações diárias da polícia em comunidades próximas, como os complexos da Pedreira e Chapadão, em Costa Barros, levaram os criminosos a agirem nas cidades da Baixada, que tem se tornado alvo para a prática de roubos de veículos e cargas. A Via Light, que liga as regiões, acaba servindo como rota de fuga.

“A bandidagem quer carros para assaltar e transportar suas drogas e armas para outras comunidades e como seus morros estão em evidência e sofrem com ações da polícia, optam pela Baixada. Lá, o efetivo escasso de policiais militares nos batalhões também contribui para esse alto número que não reduz”, lembrou o fundador do Batalhão de Operações Especiais (Bope), coronel Paulo Amêndola. 

Roubo cresce em Caxias

Com mais de 880 mil moradores, Duque de Caxias também sofre com a violência urbana. O número de roubos de veículos saltou de 234 casos para 264 em janeiro deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. Os roubos de cargas também aumentaram na região— passaram de 61 para 71 registros.

Terceira cidade mais populosa da Baixada, com mais de 480 mil moradores, Belford Roxo também enfrenta o crescimento de assassinatos, roubos de cargas, de veículos e de pedestres. Só os homicídios, subiram de 26 crimes em janeiro de 2015 para 32 este ano.

Já o número de roubos a pedestres pulou de 147 para 179 casos. Ou seja, 32 roubos a mais. Um aumento de mais de 21%.

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