Por gabriela.mattos

Rio - O drama de quem teve a casa inundada em Maricá vai muito além das perdas materiais. Depois de ver sua casa sumir na água, Marcelo Bezerra de Menezes, de 46 anos, conseguiu salvar a irmã, Márcia, 44, mas se perdeu dela em seguida. Ele a reencontrou nesta quinta-feira, em um abrigo. “Graças a Deus eu achei minha irmã, mas ela bebeu água podre e foi para o hospital. Ela estava com diarreia e vomitava muito. Sei que ficará boa”, emocionou-se.

Abrigadas em igrejas, pelo menos 540 pessoas das mais de 3 mil atingidas pelas chuvas da última segunda-feira na cidade ainda não puderam voltar para casa. O nível da água baixou, mas a Defesa Civil não liberou o retorno. Como alento, as famílias do Conjunto Carlos Marighella, do programa Minha Casa Minha Vida, em Itaipuaçu —uma das áreas mais atingidas pelo temporal na cidade —, terão mais um prazo para pagar a prestação. A Caixa vai postergar para abril o pagamento da parcela de março.

No condomínio%2C três dias após o temporal%2C moradores ainda enfrentam água até o joelho para receber as doaçõesAlexandro Auler / Agência O DIA

“As demais prestações serão automaticamente ajustadas ao calendário”, informou a Caixa, em nota. O adiamento foi solicitado pelo prefeito Washington Quaquá (PT) e pela deputada estadual Rosângela Zeidan (PT). O conjunto, inaugurado há seis meses, possui 1.470 unidades.

A Caixa também confirmou que vai liberar o FGTS de quem teve as casas atingidas pelas chuvas, desde que o município tenha a situação de emergência ou estado de calamidade pública reconhecido pelo Ministério da Integração Nacional.

Quaquá anunciou que vai assumir as despesas do condomínio, estimadas em R$ 150 mil por mês: “Aquele povo (do Minha Casa Minha Vida) não tem condições de pagar. Enquanto eu for prefeito, a cidade pagará a despesa”. A prefeitura já havia anunciado que vai comprar kits de geladeiras, fogão e colchões para distribuir às famílias.

Quatro retroescavadeiras desobstruíram nesta quinta-feira os canais que jogaram água no condomínio e nas casas vizinhas. O município pediu ao Ministério Público a abertura de inquérito contra o governador Luiz Fernando Pezão e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), cobrando prejuízos materiais e morais.

“Alguém terá de ser responsabilizado por este crime contra a população de Maricá. Pezão e André Corrêa (secretário do Ambiente) serão responsabilizados pelo que fizeram. Eles impediram a limpeza do canal”, disse Quaquá.

A polícia informou que não houve prisões por saques. No entanto, havia um boato de linchamento e até morte de ladrões que teriam roubado a moto de um morador.

Novos temporais até este sábado

Cidades atingidas pelas chuvas de domingo e segunda-feira, que deixaram três mortos, seguem em alerta. O meteorologista Marcelo Pinheiro, do Climatempo, diz que a capital e boa parte do estado correm risco de fortes temporais entre esta sexta-feira e este sábado, com grande potencial para alagamento e deslizamento. “O solo está bem encharcado, o que torna a situação mais delicada, mais perigosa”, explicou. Apenas as regiões Norte e Noroeste não devem ser tão afetadas pelas chuvas intensas e volumosas, esperadas por conta de um sistema de baixa pressão atmosférica que favorece nuvens carregadas sobre o estado.

Em Silva Jardim, o volume de água chegou a 240 milímetros em 24 horas, 120% a mais do que o máximo previsto para o período, de acordo com a Defesa Civil municipal. No mesmo dia, segundo o Climatempo, a capital registrou entre 80 e 100mm. “Isso representou mais do que todo o volume esperado para o mês de fevereiro, que é, em média, de 84mm”, informou Pinheiro.

Pelo último boletim da Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, ainda há mais de 2,5 mil desabrigados por causa das chuvas. Só em Saquarema, são 887. As cidades mais afetadas, segundo a Defesa Civil estadual, são Saquarema, Maricá, Silva Jardim, Cachoeiras de Macacu e Tanguá. Há desabrigados e desalojados em Araruama, Itaboraí, São Gonçalo, Iguaba Grande e Rio Bonito.

Nova divergência sobre mortes

O governo do estado continua divergindo em relação ao número de vítimas fatais decorrentes das chuvas. Enquanto a Seasdh afirma que foram duas mortes — uma em Saquarema e outra em Silva Jardim —, a Secretaria Estadual de Defesa Civil reconhece dois mortos — Nilton José C. Costa, 61 anos, em Silva Jardim, e uma criança de 3 anos, em Cachoeiras de Macacu.

Sobre a morte em Cachoeiras de Macacu, a Secretaria explica que ocorreu apenas no domingo e por isso, não entrou na contagem oficial das chuvas, que passou a ser feita a partir das chuvas de segunda-feira. Na terça-feira, a Seasd chegou a informar outras três mortes não confirmadas em Araruama.

Em Tanguá, o índice foi de 205 mm, o maior em 18 anos no mesmo período. Já em Maricá, o índice chegou a 170 mm, segundo informações das Defesas Civis municipais. Em Saquarema, a Defesa Civil Municipal avisou os moradores sobre o estado de alerta que segue até sábado, devido uma nova frente fria vinda do sul do país, e pediu que evitem se deslocar pela cidade se chover. Em caso de emergência, a população deve ligar para 199/192 ou 2653-4162.

Reportagem de Marlos Bittencourt

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