Rio - O Exército está equipado e preparado para enfrentar possíveis ataques com armas químicas de destruição em massa durante os Jogos Olímpicos. É o que garante o comando do 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN), que na sexta-feira, no Complexo Esportivo de Deodoro, coordenou o último exercício de simulação de descontaminação de múltiplas vítimas para casos de um acidente com agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares. A atividade encerrou um curso ministrado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Em contrapartida, as mais de 800 plantas industriais que utilizam ou fabricam produtos químicos no Brasil estão passando por inspeções surpresas internacionais para o controle de armas químicas, através da Organization for the Prohibition of Chemical Weapons (Organização de Proibição das Armas Químicas-OPCW). O Rio de Janeiro é o segundo estado do país com o maior número de plantas (88), perdendo somente para São Paulo.
“Tivemos uma importante troca de experiências com os americanos”, afirmou o coronel Anderson Pedreira, comandante do 1º DQBRN, referindo-se a militares das Forças Armadas, policiais militares, civis e federais, bombeiros e integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), do Ministério da Saúde e Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Embora a corporação evite falar em números, além do aumento do efetivo de 400 homens treinados para a localização e varreduras de agentes químicos, descontaminação de ambientes, pessoas e resgates de vítimas, o Exército receberá do Estado-Maior no mês que vem, mais veículos e equipamentos importados, entre eles, mais três detectores SIGIS (sigla de Scanning Infrared Gas Imaging), essencial para a monitoração e identificação de substâncias perigosas. Operado por controle remoto, o dispositivo identifica qualquer elemento químico ameaçador a uma distância de até cinco quilômetros.
Outros aparatos, como laboratórios móveis, são capazes de suportar condições climáticas extremas, com temperaturas que poderiam variar entre -40°C e +55º C e reter até 99,995% de partículas no ar. Tais laboratórios podem fornecer resultados confiáveis em até quatro horas.
“A tecnologia será a principal aliada de cabos e soldados”, garante Pedreira. Nos treinamentos, especialistas enfatizaram a atenção maior para aeroportos, portos e as 158 principais instalações de competição e hospedagens de delegações no Rio, Manaus, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e São Paulo.
Os investimentos deverão chegar a R$ 263 milhões até agosto. Ano passado, porém, conforme o DIA revelou, estudo realizado pela ONG Contas Abertas sobre o orçamento do governo federal, mostrou que apenas R$ 762 mil haviam sido investidos em prevenção de atos terroristas. O Ministéiro da Defesa negou e disse que os gastos estão dentro do cronograma previsto.
Especialista adverte para ‘possível vulnerabilidade’
Uma das poucas brasileiras especialistas em armas químicas de guerra, a farmacêutica bioquímica Camilla Colasso, lança, em abril, o primeiro livro sobre o tema no país. Intitulado ‘Armas químicas: o mau uso da toxicologia’, a obra adverte para o fato de as forças policiais e autoridades de segurança pública brasileiras não estarem habituadas a conviver com ataques extremistas.
“Hoje, o mundo inteiro é passível de ser alvo de terroristas. O Brasil mais ainda, por estar no centro das atenções com as Olimpíadas”, diz.
No livro, publicado pela Intertox, empresa que é referência nacional em segurança química, ela admite, porém, “significativos avanços preventivos” do governo brasileiro. Ela detalha ainda produtos antigos, mas cada vez mais presentes em atentados, como os gases sarin, mostarda e cloro, usados pelas organizações mais temidas do planeta: Al-Qaeda e o Estado Islâmico.