Por tiago.frederico

Rio - A reforma da Marina da Glória, considerada um legado olímpico pela Prefeitura do Rio e inaugurada ontem, continua gerando uma enseada de polêmicas. A construção de um prédio novo, com polo gastronômico, e o aumento do número de vagas para barcos, que prejudicam a visão do Pão de Açúcar e da Baía de Guanabara a partir do Parque do Flamengo, ainda estão sendo questionadas na Justiça. Tanto o parque quanto a marina, que somam 15 mil metros quadrados, são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

De acordo com o advogado Nelson Nirenberg, da Associação de Usuários da Marina (Assuma), há um desvio de finalidade. “A Marina é para barcos e com destinação náutica. A BR Marinas, que administra o local, transformou a área em espaço para festas particulares”, diz Nirenberg.

Marina da Glória é reinauguradaSeverino Silva / Agência O Dia

A prefeitura argumenta que a marina era restrita a donos de embarcações e que a obra liberou a orla entre a área e o Aeroporto Santos Dumont à circulação do público em geral. “Resolvemos o problema criado na época da inauguração do Parque do Flamengo porque o local jamais foi público de fato. A população terá acesso à orla e a restaurantes”, disse o prefeito Eduardo Paes.

A afirmação não convence o advogado da Assuma. Nirenberg lembra que o Tribunal Regional Federal da 2ª Região anulou o contrato entre a prefeitura e BR Marinas, que recorreu da decisão. “O que lá foi construído é ilegal. A marina deve ser pública e destinada para atividades náuticas.”

A Federação das Associações dos Moradores do Rio (FAM-Rio) move outra ação civil pública contra a BR porque o Iphan teria analisado e aprovado, em apenas 24 horas, o projeto, considerado prejudicial à cidade. Além disso, a federação afirma que o órgão autorizou o corte de centenas de árvores e não embargou as obras que descaracterizam a finalidade náutica.

"Análises técnicas necessitam de muito rigor. Em um dia, o Iphan deu quatro pareceres favoráveis à descaracterização do projeto da marina. Contestamos as obras porque a decisão não passou pelo conselho consultivo do Iphan. Houve pressa descabida para autorizar a obra e queremos a nulidade do ato que permitiu o licenciamento”, denuncia Sônia Rabello, presidente da FAM-Rio.

O prefeito Eduardo Paes e o ministro do Esporte%2C Ricardo Leyser%2C observam as novas instalaçõesSeverino Silva / Agência O Dia

A BR Marinas disse ter investido R$ 70 milhões na renovação da estrutura e na ampliação do número de vagas secas (de 70 para 240) e na água (de 140 para 415).

O presidente da Assuma, Luiz Golfeld, reclama ainda que a BR Marinas paga um aluguel à prefeitura de apenas R$ 22 mil por mês. “Para se ter uma ideia, o Porcão Rio's (restaurante) pagava à prefeitura R$ 400 mil mensais.”

Lixo e poluição ainda contrastam com a reforma de R$ 70 milhões

A estrutura moderna exibida na apresentação da nova Marina da Glória, com píeres reformulados, contrastava com a grande quantidade de lixo na água, na manhã de ontem. O antigo problema foi um dos motivos de ressalva entre os cariocas que passavam pelo local durante a inauguração. Alguns também questionaram as intervenções na paisagem.

“Sempre foi um lugar muito degradado. A própria arrumação dos barcos era desordenada. Melhorou por esse lado, mas para virar uma área de cultura e lazer muita coisa ainda precisa ser feita”, disse o aposentado Nilton de Souza, de 65 anos, que dava as primeiras pedaladas no local aberto ontem. “O píer novo no centro da Marina é feio e cobre parte de uma paisagem muito bonita”, afirmou o professor Thiago Ferreira, de 35 anos.

Em volta dos novos píeres, era possível ver tainhas nadando entre a grande quantidade de lixo acumulado na água. A poluição impressionou as pessoas que chegavam para conhecer a nova atração. Questionado, o prefeito Eduardo Paes afirmou que a poluição não será um problema para os Jogos Olímpicos. No entanto, reconheceu a necessidade de melhorias no saneamento. Ele informou que a Cedae vai fechar uma tubulação que despeja esgoto na marina no dia 15.

Para o biólogo Mário Moscatelli, a marina continua sendo a “latrina” da Glória. “A obra deveria ter sido finalizada em dezembro de 2015. De prazos eu já estou cheio por parte da Cedae.”

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