Por gabriela.mattos

Rio - Um mês após o início da ocupações nas escolas estaduais, o processo inverso vem ganhando força: em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, a Justiça intimou diretores de cinco colégios tomados por estudantes a retomarem as aulas. Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, um Ciep foi desocupado por pressão de pais, alunos e professores.

Cerca de 500 estudantes compareceram nesta segunda-feira ao Ciep 179 — Professor Cláudio Gama, em São João de Meriti, acompanhados de ex-alunos, professores e pais para pedir a desocupação da escola, tomada na quarta-feira. “Os manifestantes não fizeram assembleia, entraram e ocuparam”, reclama Érick Santana, 16 anos, aluno do segundo ano do Ensino Médio. “Não entendemos nada. Temos ar-condicionado, professores e merenda. Não é como muitas escolas que vemos por aí”, diz.

Assembleia no Ciep 179%2C em Meriti%2C decidiu pela desocupação da unidade. Escola estava em poder dos estudantes desde a semana passadaDivulgação

Em nota, a Secretaria de Educação (Seeduc) informou que o Ciep 179 — Professor Cláudio Gama foi invadido por um grupo de 10 estudantes no feriadão. No entanto, como os demais alunos foram impedidos de estudar, os pais, descontentes com a situação, se mobilizaram e organizaram uma comissão para desocupar a unidade. As aulas estão previstas para acontecer normalmente hoje.

A decisão judicial não significa que as unidades tenham de ser desocupadas, mas que as direções das escolas invadidas devem “disponibilizar instalações, em setores distintos dos já ocupados, a fim de que seja imediatamente restabelecido a todos os alunos o direito ao acesso à escola e à educação”, diz a decisão. Caso o diretor do colégio não cumpra a decisão, a unidade receberá multa diária de R$ 2 mil.

Segundo a Seeduc, os diretores tentarão negociar a retomada das aulas com os ocupantes. Caso não haja sucesso, a Seeduc informou que recorrerá da decisão.

A Seeduc reconheceu que no feriadão, duas unidades foram invadidas e vandalizadas. No colégio estadual Miguel Couto, em Cabo Frio,alunos foram assaltados por três bandidos. O Domício da Gama, em Maricá, foi alvo de vândalos. Os dois casos foram registrados nas delegacias locais.

Em nota, a Polícia Militar informou que não existe policiamento especial ao redor das escolas ocupadas. Segundo a PM, viaturas fazem rondas constantes no entorno dessas unidades.

Estudantes com medo de retaliações

Os estudantes que ocuparam o Ciep 179 — Professor Cláudio Gama, em São João de Meriti, estão com medo de retaliações de colegas e professores após a retomada da escola. “Já teve ameaça, disseram que não vão nos deixar colar o grau”, diz um dos ex-ocupantes, que pediu para não ser identificado. “Os colegas postaram nossas fotos e nos ameaçaram pelas redes sociais. Temos medo de voltar e sermos ameaçados”.

Segundo o estudante, o medo não se resume a represálias de outros alunos. Após a ocupação, sua preocupação ainda é a de que seja perseguido por professores ou pela direção. “Eu dependo deles para documentação e estágio, e se quiserem me prejudicar?”, questiona o jovem.

Apesar do movimento contrário, os ocupantes irão se rearticular e tentar voltar mais fortes, com adesão maior. “Não conseguimos explicar nosso lado”, lamenta ele, que afirma não ter conseguido nenhum apoio da direção da unidade. “Nos deram apenas uma chave da escola. Não tínhamos o que comer, trancaram o refeitório e o banheiro”, relembra.

“O Sepe fez uma vaquinha para comprar quentinhas e um professor levou uma panela elétrica para não morrermos de fome”, diz. “No primeiro dia, tomamos banho de caneco, porque o vestiário estava trancado.”

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