Por karilayn.areias

Rio - O ano era 1922, centenário da Independência do Brasil. Enquanto o país celebrava a data, a Câmara dos Deputados consegue levantar a verba mínima para a construção do suntuoso prédio que levaria o nome do herói da inconfidência mineira. Ao todo, foram exatos 15 mil contos de réis, parte doada pelos cafeicultores, grandes ‘mecenas’ da época. O presidente da República, Epitácio Pessoa, e o presidente da Câmara, Arnolfo de Azedo, lançam a pedra fundamental do Palácio Tiradentes, hoje sede da Assembleia Legislativa (Alerj).

Projeto misturava concreto e tijolos para imitar pedras, só usadas mesmo nas escadarias e balcões. Hoje, prédio passa por sua segunda reforma desde que foi inaugurado, em 1926Divulgação

Com poucos recursos, uma dupla de arquitetos precisou improvisar para concluir o projeto, inspirado no Grand Palais de Paris. Vencedores do concurso, Archimedes Memoria e Francisco Couchet precisaram transformar o pouco em muito. Para isso, usaram uma estrutura revolucionária para a época, baseada em concreto armado e tijolos. O revestimento da massa imita perfeitamente a pedra —que só está presente na escadaria e nos balcões de mármore. Todo o resto é feito em massa, inclusive as esculturas, as maiores do Brasil na época.

“O resultado final foi um sucesso pela grandiosidade e imponência que o projeto passa, e foi feito com toda a economia possível”, explica Milton Teixeira, roteirista da peça ‘Um Palácio de Histórias’, que marca os 90 anos do Palácio Tiradentes. “Reflete uma sociedade que gostava de fachada, de imagem. Você tem a impressão de uma riqueza esplendida, mas tudo é de massa no interior”, destaca.

A pedra fundamental da obra foi lançada em 1922%2C pelo presidente Epitácio PessoaDivulgação

O projeto é classificado como eclético, que mistura estilos variados. Este tipo de arquitetura caracterizou a maioria das grandes construções no Brasil entre a Proclamação da República (1889) até a chegada de Getúlio Vargas (1930), entre elas, o Theatro Municipal e a Câmara dos Vereadores. Para Teixeira, a escolha do estilo reflete o conservadorismo político da época. “Em 1922 nós já tínhamos os primeiros arquitetos modernistas, mas preferiram construir imitando o palácio francês, menos ousado”, conta.

Já para a vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Cissa Guimarães, o ecletismo representa uma época de mudanças. “O modernismo estava no início. Mas o ecletismo misturava referências, superando o neo-clássico. Representava uma mudança forte na sociedade.”

A obra levaria quatro anos, empregando 200 operários. Das folhas de café desenhadas às cadeiras do salão nobre, cada detalhe conta um pouco da história do lugar. “Quem bancou tudo foi São Paulo. O estado doou o grosso. Como foram os cafeicultores que meteram a mão no bolso, tudo é decorado com café”, conta o historiador.

Construção em estilo eclético levou quatro anos e envolveu 200 Divulgação

Agenda

RIO HARP FESTIVAL
A programação dos 90 anos do Palácio Tiradentes começa hoje, às 18h, no plenário da Alerj, com o Rio Harp Festival, do projeto Música no Museu, com músicos franceses. Na segunda, às 18h, é a vez de músicos holandeses. Entrada gratuita.

PEÇA TEATRAL
Em duas apresentações no plenário da Alerj, na sexta e sábado, dias 6 e 7 de maio, a peça ‘Um Palácio de Histórias’ conta os 90 anos do Palácio Tiradentes até os dias atuais. A entrada é gratuita.

NOVO CAPÍTULO
Na sexta que vem, a série especial do DIA vai relembrar a inauguração do palácio, em 6 de maio de 1926.


Veja mais detalhes da decoração do prédio em blogs.odia.ig.com.br/palacio-de-historias

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