Por karilayn.areias

Rio - A malha cicloviária do Rio de Janeiro é um bom indicativo de que não é dado o devido valor às pistas de nenhuma região, seja as mais ricas ou as mais pobres. A prefeitura se deu ao luxo de gastar R$ 11 mil por metro da Ciclovia Tim Maia, que liga o Leblon à São Conrado, mas em pouco tempo e tragicamente, todos viram que em pelo menos um item não teve investimento: segurança. Quem usa as rotas cicloviárias da Zona Oeste enfrentam problemas diariamente. Elas estão, literalmente, um lixo.

Ciclistas enfrentam missão quase impossível para utilizar ciclovia em Santa Cruz%3A desviar da lixeira improvisada e passar por techo estreitoAndré Mourão / Agência O Dia

O DIA percorreu, na semana passada, as ciclovias da Estrada dos Bandeirantes, em Jacarepaguá, e da Avenida João XXIII, em Santa Cruz, e constatou a falta de, no mínimo, zelo. Lixo, entulho, postes, crateras e veículos pesados, como caminhões, ocupam as pistas, jogando os ciclistas para o meio da rua para brigar por espaço com carros.

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente são registradas mais de 1,5 milhão de viagens por dia na cidade. As ciclovias das áreas de maior visibilidade do município são pintadas de vermelho e bem sinalizadas, embora também sejam alvo de críticas de ciclistas. Mas as instaladas em regiões mais afastadas se encontram em estado deplorável. “A gente fica chateado. Até entendo que cartão postal da cidade precisa ser embelezado por causa dos turistas. Mas, tem que ter dinheiro para ajeitar a nossa”, critica o sapateiro Carlos José dos Santos Graça, 56 anos, o Seu Zezé, morador de Curicica, em Japarepaguá, que vai e volta do trabalho na sua bicicleta “velha de guerra”, como define.

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As vantagens do uso da bicicleta como alternativa de transporte são inúmeras. No Brasil, esses benefícios se acentuam porque a bicicleta é comprovadamente o meio de transporte do trabalhador: 30% dos brasileiros que pedalam ganham entre um e dois salários mínimos. Desde 2009, apesar de algumas resistências, o Rio tem ampliado consideravelmente suas rotas cicloviárias. O salto nesse período foi de 145 kms para cerca de 440 kms.

Porém, levantamento do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), revela que apenas 235 kms dessa rede são dedicadas exclusivamente à circulação de bicicletas. Nas demais, o ciclista compartilha espaço com carros e pedestres. “A infraestrutura para bicicleta recebe menos atenção e segurança do que o carro e outros meios de transporte”, afirma a gerente de projetos do ITDP, Danielle Hope. Apesar dos protestos pela demolição total, o prefeito Eduardo Paes já declarou que pretende refazer a ciclovia Tim Maia, que desabou, parcialmente, quatro meses após a inauguração, causando duas mortes. Resta saber se as outras ciclovias também vão continuar caindo aos pedaços.

Questionamentos: ‘É uma questão política. A Prefeitura quer priorizar o quê?’

Ciclovia na Estrada dos Bandeirantes%3A é tão difícil dividir o espaço com poste e caminhões estacionados%2C que alguns preferem usar o asfaltoAndré Mourão / Agência O Dia

O projeto e o alto custo da Ciclovia Tim Maia merecem questionamento. O que é incontestável é a necessidade urgente de se criar um caminho seguro para ciclistas e pedestres que precisam se locomover entre os bairros do Leblon e São Conrado, pela Avenida Niemeyer. “É um espaço crítico, não tem passeio público para as pessoas andarem. São quase quatro quilômetros de <MC0>pistas apertadas e sinuosas sendo utilizadas ao mesmo tempo por pessoas, carros e ônibus pesados”, reclama Daniella Hope, do ITDP. Segundo ela, uma alternativa, “sem esse custo tão criticado”, era tirar uma faixa de carro da Niemeyer e desviar o trânsito para o Túnel Zuzu Angel. “É uma questão política. A prefeitura quer priorizar o quê? Quer beneficiar carros ou pessoas?”, indaga. “Nossa preocupação agora é que o incidente e o custo da ciclovia joguem por terra todo o esforço dos últimos anos para termos uma cidade mais amigável para bicicleta”, alerta Thais Lima, Gerente de Comunicação do ITDP.

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