Rio - Não serão fáceis os dias do governador interino Francisco Dornelles (PP), pressionado para mudar o governo formado por Pezão e abrir mais espaço aos partidos, especialmente o PMDB do próprio Pezão e do presidente da Alerj, Jorge Picciani.
O deputado Átila Nunes diz que nunca viu uma situação tão grave como a vivida pela população do Estado do Rio. Ele prevê que o governador titular, afastado para lutar contra o câncer, não voltará tão cedo ao Palácio Guanabara e que, por isso, Dornelles “tem que assumir de fato”. Defende que seu partido, com 16 deputados, se afaste do governo porque “essa administração não representa o PMDB”.
Por que o senhor diz isso?
Jamais o PMDB tomaria a decisão absurda de não pagar aposentados e pensionistas. Essa barbaridade foi uma decisão unilateral do governador, uma completa aberração. Dornelles não discutiu com a base nem com o PMDB. Ele foi eleito com Pezão, mas age como membro do PP, do qual é presidente.
Mas a decisão foi tomada pela equipe montada pelo governador Pezão.
A caneta que tem tinta é a do governador. A decisão foi de Dornelles, sem consultar o PMDB. Pegou a todos nós de surpresa. Não consultar o deputado Picciani foi descortesia e extrema burrice. O governo só respira por aparelhos graças ao Picciani, que garantiu aprovação de mensagens importantes e impopulares do Executivo. Nenhum de nós avalizaria essa barbaridade de não pagar aposentados e viúvas. Além do mais, Dornelles parece absolutamente perdido. É um político experiente e passou por ministérios importantes, mas que tratavam de assuntos específicos. Outra coisa é lidar com essa gama de problemas que dizem respeito a milhões de famílias fluminenses, englobando segurança, transporte, saúde e educação. Nessa toada, o estado fechará as portas em poucos meses. A sensação é de absoluta inoperância. Quem controla o orçamento é a Justiça, que arrestou R$ 648 milhões para pagar 143 mil aposentados e pensionistas. Chega a ser patética a forma de relacionamento com os servidores. Outro dia, ele pediu aos servidores que formassem uma comissão “com a tarefa de apresentar alternativas à crise financeira”. Pela madrugada! Uma coisa é pedir as reivindicações. Outra, é que os servidores deem a solução. Para que, então, o governador? Cadê a equipe dele, o pulso forte, o talento, a experiência de quem já foi ministro duas vezes?
Ele deveria mudar a equipe de Pezão?
Dornelles está no comando do barco. Se a equipe não o atende, que mude os nomes e explique ao Pezão que precisa de pessoas mais experientes para tirar o Rio do caos. O Leonardo Espínola (chefe do Gabinete Civil) vai recorrer da decisão do TJ que deu ganho de causa aos aposentados. É o fim da picada! Dornelles precisa dar ao PMDB autoridade para propor mudanças radicais.
Se ele não agir com autoridade, o Rio vai quebrar na mão dele. O secretário de Educação propôs usar a polícia para tirar estudantes das escolas. O de Transporte ninguém conhece, nem eu sei o nome. É uma fragilidade grande.
Mas eles foram escolhidos por Pezão. O senhor acha correto que o interino troque a equipe toda na ausência do titular?
Uma coisa é fazermos parte de um governo encabeçado pelo PMDB. Outra é dialogar com o maior líder de outro partido (PP), que tem como prioridade os interesses dos seus partidários, além de uma visão diferente em relação aos servidores. A situação é grave. O Rio está com 40 graus de febre e precisa ir para a emergência, não dá para esperar o Pezão voltar. Ele deve ficar meses no hospital. Eu enfrentei isso com meu filho (morto pelo câncer há três anos). Cada seção de quimioterapia é algo inimaginável, você sai como um zumbi, vomitando, enjoado, com náuseas, não consegue pensar em nada. O Dornelles tem que assumir.
Por acaso o objetivo desse movimento é levar Dornelles à renúncia para Picciani assumir o governo?
Chance zero de ser isso. O Picciani não tem o menor interesse, até porque o estado está na pior situação da história. Dornelles não deve renunciar, é experiente, o nome certo para negociar com o futuro presidente Michel Temer, tem postura para isso. Mas acho que tem que assumir de fato. Pezão não está com dengue ou com gripe, não vai voltar amanhã.