Rio - Com o bloqueio do WhatsApp determinado pela Justiça sergipana— por não ter passado informações à Polícia Federal sobre quadrilha de traficantes de drogas— os mais de 100 milhões de brasileiros que usam o serviço foram prejudicados. Alguns recorreram a outros aplicativos de mensagem instantânea, enquanto outros preferiram esperar a volta do ‘Zap’. O juiz Marcel Maia Montalvão ordenou a interrupção por 72 horas. Mas muitos torcem por um pedido de liminar, como ocorreu em dezembro de 2015, quando a decisão foi derrubada e o prazo de 48 horas não foi cumprido.
Funcionária de um salão de beleza em Botafogo que usa o app para agendar clientes, Ivanilda Azevedo, 47 anos, criticou o bloqueio. Apesar de não ser fã do serviço para fins pessoais, a recepcionista vê a medida como um empecilho para quem usa o aplicativo para trabalhar. “Se levar o aplicativo a sério, ele é importante”, opinou Ivanilda.
O setor de entregas também foi prejudicado. Sócio de uma empresa de alimentos saudáveis, Robert Quadrelli comentou que cerca de 90% das vendas da marca costumam ser encomendadas pelo aplicativo. Ontem, houve uma enorme queda na demanda. “Pensamos em usar outro aplicativo, o Telegram, mas não teria muito tempo para estabelecer tudo”, diz.
?Nas ruas, a medida gerou controvérsias. “Acho sem coerência. Atrapalhou a vida de muita gente”, reclamou a atendente Lidiane Souza, de 24 anos, que está usando o Messenger, do Facebook, para se comunicar. Já o engenheiro químico Igor Leite, 33 anos, achou a atitude coerente. “Se foi solicitado pela Justiça, acho válido”, avaliou.
1 milhão de usuários no Telegram
O WhatsApp afirmou que não tem as informações requeridas pela Justiça e recorreu da decisão. As operadoras de telefonia TIM, Oi, Vivo, Claro e Nextel acataram a ordem de interromper o acesso ao aplicativo, que impõe multa diária de R$ 500 mil por descumprimento.
Em menos de duas horas fora do ar, o aplicativo queridinho do país já estava sendo ‘traído’ por 1 milhão de brasileiros com seu maior rival, Telegram. No Twitter, o concorrente admitiu que ficou sobrecarregado. Segundo o Ibope, o WhatsApp é usado por 93% dos internautas no Brasil, mais do que o Facebook (79%).
O engenheiro eletricista Vincenzo Di Giorgio, CEO da Dinatech Brasil, diz que outros apps gratuitos oferecem serviços de igual qualidade. Para quem não quiser parar de trocar mensagens, ele recomenda o Telegram, o Viber, o Chat On e o Skype. Coach e especialista em finanças, Alexandre Prado, que usa bastante o Whatsapp para trocar informações de forma mais rápida com os clientes, aderiu ao Telegram e aprovou. "Até agora, não deixou nada a desejar para o Whatsapp", avaliou.
A fim de não prejudicar as investigações, até o Disque-Denúncia criou conta no Telegram (96802-1650). O órgão recebe 60 mensagens por dia no WhatsApp — 20% das denúncias.
A Justiça de Sergipe explicou que a suspensão atende à medida cautelar solicitada pela Polícia Federal. O Facebook, dono do WhatsApp, não teria obedecido a uma determinação de quebra de sigilo. A recusa levou à prisão o presidente do Facebook para América Latina, em março.