Por gabriela.mattos

Rio - Getúlio Vargas e seus arquirrivais Carlos Lacerda e Luiz Carlos Prestes têm encontro marcado pouco antes das 19h desta sexta-feira, nas escadarias do Palácio Tiradentes, no Centro do Rio. Personagens de um dos períodos mais conturbados da história política nacional, personificados na pele de atores do grupo ‘O Corsário Carioca’, os três vão receber o público convidado para a peça ‘Tiradentes, um Palácio de Histórias’. Gratuito, para até 490 convidados, o espetáculo marca os 90 anos do prédio que hoje é sede da Assembleia Legislativa do Estado do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

“O Palácio Tiradentes é o lugar da memória da democracia brasileira”, sentencia o historiador Milton Teixeira, autor da peça e que também encarna o secretário Prado, figura fictícia que narra toda a história. Não é para menos. Palco até hoje de grandes manifestações e reinvindicações, foi ali, no mesmo terreno da Cadeia Velha onde Tiradentes ficou preso por três anos até ser enforcado em 1792, que ocorreram alguns dos principais acontecimentos do parlamento no Brasil.

Construído em terreno onde funcionava a Cadeia Velha que recebeu Tiradentes%2C prédio integra conjunto arquitetônico que representa a história do Brasil Colônia Maíra Coelho / Agência O Dia

Inaugurado em clima de festa em 6 de maio de 1926, após quatro anos de obras, o Palácio Tiradentes, como sede da Câmara Federal, recebeu todas as posses dos presidentes da República, de Washington Luiz, em 1926, até Juscelino Kubistcheck, em 1960. Na casa foram elaboradas e aprovadas as constituições de 1934 (que serve de modelo para a atual), a de 1946, a da Guanabara, de 1961, e as constituições estaduais de 1976 e 1979.

Das escadarias ao plenário de grandes discursos e embates políticos, o palácio acumula histórias cômicas e trágicas, como a morte do deputado Souza Filho, em 1929, às vésperas da chamada Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. O episódio é lembrado em uma das cenas. A primeira deputada mulher do Brasil, Carlota Pereira de Queirós, eleita em 1933, também é retratada na montagem.

Mas nem sempre o Palácio esteve de portas abertas para o povo. Na Revolução de 1930 e durante o governo provisório de Vargas, a Câmara ficou fechada, até 1933, quando então se instalou uma nova assembleia constituinte. “Em 1937, com o golpe do Estado Novo, a casa volta a ser fechada e serve de sede do DIP, o órgão de censura e propaganda do governo de Vargas, que cuidava da imagem do presidente como ‘pai dos trabalhadores’, e fiscalizava tudo o que saía nos jornais impresso, nas rádios e até as músicas da época”, lembra o historiador José Paulo Antunes. Professor do Colégio Pedro II, ele atuou como monitor de visitas guiadas no Palácio Tiradentes entre 2010 e 2012. Antunes conta que a Câmara só reabre em 1945, com a redemocratização.

"Foi um período problemático, que sucedeu o governo ditatorial de Vargas, com relações conturbadas entre o regime presidencialista e o discurso parlamentar”, conta o historiador. “Dá para traçar um paralelo com a atualidade. Vargas e Dutra tiveram dificuldades para se relacionar com o Congresso. Já Juscelino teve mais facilidade, porque criou a tendência de governo de coalização, de negociar cargos com partidos para garantir a governabilidade”, compara.

De forma bem-humorada, a peça sobre os 90 anos do palácio também traça um paralelo entre passado e presente, ao destacar Joaquim Silvério dos Reis, traidor de Tiradentes, como “o primeiro caso de delação premiada do Brasil.” Sobre o encontro memorável lá do início dessa história? Ah, só assistindo ao espetáculo para saber mais.

Você pode gostar