Rio - Hoje é um dia mais do que especial não só para quem já é mãe, mas também para quem quer adotar uma criança. Para isso, a 1ª Vara de Infância do Rio está realizando uma espécie de mutirão da adoção e deve julgar cerca de cem processos neste Dia das Mães.
O objetivo principal da iniciativa é diminuir para menos de seis meses o tempo em que as famílias esperam para receber seus filhos em definitivo, com a sentença da adoção, e a documentação completa, com a certidão de nascimento já com o nome da família adotiva. Os mutirões também pretendem reduzir o número de adolescentes e crianças com mais de 5 anos de idade que esperam uma família — ainda hoje há uma preferência gigante pela adoção de crianças pequenas.
À frente da empreitada está o juiz Pedro Henrique Alves, titular da 1ª Vara. “O lugar da criança e do adolescente é no seio da família, de preferência em sua família de origem. Mas, se isso não for possível, que seja então numa família substituta através da adoção”, explica o juiz, de acordo com a Agência Brasil. “O mutirão da semana do Dia das Mães é para agilizar os processos.”
A iniciativa vai ocorrer também uma semana antes do próximo Natal. As campanhas realizadas pela 1ª Vara já estão reduzindo o número e o tempo dos processos. No fim de 2015, havia 212 processos antigos tramitando na Vara. Agora são 190. “Na próximo mutirão, daqui a seis meses, esperamos que este número caia para algo em torno de 170 processos”, avalia o magistrado.
Segundo Pedro Henrique Alves, no ano passado cerca de cem crianças foram adotadas no Rio. A expectativa é que este ano, com os dois mutirões, o número dobre. “A nossa expectativa é zerar todos os processos de adoção . Mas quando falo em zerar todos os processos, estou me referindo àqueles casos que já estão maduros e bem analisados. Processos de adoção em fase inicial não entram nos mutirões”.
O juiz admite que o tempo de espera das famílias ainda não é o ideal. A espera é longa porque a maioria tem um “ideário” de adoção que dificulta o encerramento do caso. A preferência é quase sempre por bebês saudáveis e com traços físicos semelhantes aos dos candidatos. “Precisamos mudar essa mentalidade e pensar não apenas na família que precisa de um filho, mas principalmente na criança que precisa de uma família”.
Números que não disfarçam o preconceito
A conta não fecha. Existem hoje cerca de quatro mil crianças e adolescentes disponíveis para adoção em todo país. Paralelamente, há mais de 30 mil pessoas na fila de espera por uma criança, segundo o Cadastro Nacional do Conselho de Justiça (CNJ).
Números tão discrepantes revelam uma triste realidade: as famílias querem crianças imaginárias. “As pessoas escolhem um perfil de preferência: em geral, querem crianças de pouca idade, ainda bebês, branquinhos e de olhos azuis. E nós não temos estas crianças para serem adotadas. Nós temos hoje, em nossas instituições, crianças lindas, maravilhosas, mas um pouco mais velhas e nem tão branquinhas assim”, ressalta o juiz Pedro Henrique Alves.