Rio - Com a voz trêmula que apontava sua idade de 83 anos, Maria Helena contava na delegacia do Catete, Zona Sul do Rio, na tarde de ontem, como foi vítima de um grupo conhecido como ‘bonde das loiras’. “Meu cartão ficou preso e essa moça, loira, tatuada, apareceu. Disse que o mesmo havia acontecido com o cartão dela e que já estava com o gerente do banco no telefone”, disse ao Dia.
A idosa passou seus dados pessoais e foi embora, deixando seu cartão para trás em um caixa eletrônico do Banco do Brasil, no Flamengo, também na Zona Sul.
Cerca de 30 minutos depois, recebeu o telefonema de um funcionário do seu banco. Soube assim que a ajuda que recebera momentos antes tratava-se de um golpe e, em um intervalo de oito minutos, R$ 13 mil haviam sido sacados de sua conta.
As golpistas foram identificadas como Verônica Freitas Gomes, 19 anos; Larissa Oliveira, 23; e Letícia do Nascimento, 26. Paulistas, as três foram presas neste sábado, dia 14, após dois meses de investigação.
“As vítimas sempre eram pessoas de idade e a escolha dos alvos era feita pela cor do cartão bancário, porque assim elas sabiam qual era a faixa de renda. As três se deslocavam de São Paulo para o Rio todos os finais de semana e faturavam R$ 30 mil por viagem”, disse a delegada Cristiane Almeida, responsável pela investigação.
Somente na delegacia do Catete, nos últimos 60 dias, 15 pessoas realizaram registros de ocorrência afirmando terem caído no golpe aplicado pela gangue.
As três amigas foram presas logo após a colocação de um equipamento chamado ‘chupa- cabra’ em um caixa eletrônico de uma agência em Laranjeiras. Rudimentar, o chamado ‘chupa-cabra’ consiste em um simulacro da abertura para a inserção do cartão bancário, que é colado em cima da entrada verdadeira.
Por ser de plástico, após a inserção na falsa abertura, o cartão acabava ficando preso na cola de fitas adesivas, impossibilitando sua retirada. Nessa hora, uma das mulheres se aproximava oferecendo ajuda.
De acordo com os policiais, a escolha pelo fim de semana era estratégica. “Elas sabiam que não teria nenhum funcionário do banco para oferecer ajuda e agência estaria mais vazia”.
Assim, neste sábado, após desembarque no aeroporto, deixaram as malas no Hotel Diplomata, em Copacabana, às 6h40. Às 8h20 já estavam colando o ‘chupa-cabra’ em uma agência. Na saída, foram detidas.
Já na delegacia, foi constatado que duas estavam em liberdade condicional por terem praticado o mesmo crime em São Paulo ano passado. Em depoimento, segundo a delegada, elas afirmaram que estavam “apenas trabalhando ao aplicar o golpe”. O trio foi indiciado por estelionato e associação criminosa. Como a fraude foi comprovada, Maria Helena conseguiu reaver seu dinheiro. “Teve um final feliz para mim”, disse, aliviada.