Por clarissa.sardenberg

Rio - Foi uma aula de intolerância. Um evento para anunciar a devolução do controle do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, à Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) deu lugar à violenta discussão entre o chefe de gabinete da Seeduc, Caio Castro Lima e professores e estudantes, que apoiavam a ocupação. Chamado de fascista, Lima reagiu e, com dedo em riste, mandou a professora de Geografia do Mendes de Moraes, Alessandra Bruno, calar a boca. Os alunos consideraram a postura de Castro desrespeitosa e o expulsaram. Ele deixou o local sob vaias dos jovens, e logo depois pediu exoneração. À noite o secretário Antonio Neto também pediu desligamento da pasta. Segundo o Palácio Guanabara, Wagner Victer, ex-presidente da Faetec, assume a Secretaria de Educação.

Aos gritos de 'fascista'%2C estudantes e professores da Mendes de Moraes hostilizaram o chefe de gabinete da Secretaria de Educação%2C Caio CastroEstefan Radovicz / Agência O Dia

A Mendes de Moraes foi a primeira escola a ser ocupada por estudantes insatisfeitos com os rumos da educação no Rio de Janeiro. Depois de 56 dias de negociação conturbada com a Seeduc, os alunos decidiram desocupar a escola e convocaram entrevista coletiva para fazer o anúncio. O chefe de gabinete, que esteve à frente das conversas com os manifestantes, foi convidado para conferir um ar oficial à solenidade. Entretanto, no decorrer do encontro aconteceu o entrevero, que resultou na expulsão do chefe de gabinete do colégio. A Seeduc, em nota, lamentou a saída de Lima, afirmando que ele foi “agredido e insultado durante suas atividades de trabalho”.

Por outro lado, um dos líderes do movimento, o aluno João Victor da Silva, que cursa o 3° ano do Ensino Médio na unidade, criticou Lima. “Ele não vai mandar um professor calar a boca dentro da escola. Isso mostra o baixo nível que é a Secretaria de Educação”, afirmou o jovem. Apesar do fim da ocupação, a Seeduc não soube informar quando o colégio, que entrou em férias por causa da greve, retoma suas atividades normais. “A própria Seeduc não consegue se organizar”, reclamou o líder estudantil, garantindo que as aulas retornam somente no final de maio, quando reformas estruturais forem concluídas.

Para o doutor em Educação pela Uerj,professor Henrique Sobreira, ninguém mais tem paciência com a falência moral do Estado. Segundo ele, a sociedade, se sente traída. “Não era uma greve. Era uma situação diferente e o Governo tinha que ir para o debate com iniciativa de paz e não para vencer uma guerra”, defendeu.

Estudantes controlam 68 colégios

De acordo com os estudantes, 68 colégios estaduais continuam ocupados por alunos que exigem mudanças. Entretanto, eles enfrentam a oposição de alunos contrários às ocupações. Ontem, um desses grupos, com 30 estudantes, conseguiu retomar o controle da Escola Central do Brasil, no Méier.

A estratégia teria sido tomada, durante a ausência de ativistas, que estavam em uma reunião em outra escola ocupada da região. Após entrarem na Central do Brasil, os estudantes ainda tentaram desocupar o Colégio Estadual Visconde de Cairu, mas sem sucesso. Para evitar briga, o Méier Presente foi acionado.
Na sexta-feira, a primeira unidade ocupada, a Escola Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, foi alvo de depredação após o movimento ‘Desocupa’ tentar retirar os alunos da ocupação. Dois membros do movimento ficaram feridos após serem atingidos por pedradas.

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