Rio - O atentado que matou o sargento reformado da Polícia Militar Geraldo Antonio Pereira e deixou ferido o ex-policial civil Hélio Machado da Conceição, o Helinho, na manhã desta terça-feira, dentro do clube esportivo Novo Rio Country Club, no Recreio dos Bandeirantes, é mais um capítulo da guerra sangrenta que vem sendo travada no submundo do crime.
Na ação, Aurélio Gomes de Farias, 53 anos, que seria segurança do sargento, também foi alvejado. Um diretor do clube, José Roberto Pontes, 63 anos, foi atingido de raspão. Pereira, Aurélio e Helinho foram socorridos. Os dois últimos continuam internados. A principal linha de investigação da polícia é a disputa pelo controle dos pontos de caça-níqueis na Zona Oeste. Entretanto, uma briga entre milicianos pelo domínio da região não está descartada.
Pereira, que seria o principal alvo dos matadores, atuava nas duas modalidades criminosas. Ele também era conhecido como Geraldinho da Curicica e teria assumido o controle da milícia que atua em Jacarepaguá, desde agosto do ano passado, quando a polícia prendeu o ex-PM Roberto Ramos dos Santos Junior, o Betinho, que era o chefe da quadrilha. No dia seguinte à prisão de Betinho, o cabo da PM Carlos Eduardo Conceição Dias, o Eduardinho, 32 anos, foi executado na Praia da Reserva. O militar era ex-genro de Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, chefe da milícia Liga da Justiça, preso desde 2009.
O sargento Pereira ainda era cabo quando, em 1997, foi preso com outros policiais do batalhão de Jacarepaguá, depois que a tropa foi gravada por um cinegrafista amador espancando moradores da Cidade de Deus, no episódio que ficou conhecido como ‘muro da vergonha’. Desde então, ele tornou-se informante da Divisão Anti-Sequestro (DAS) e, depois, se envolveu com a milícia. Seu prestígio nas comunidades que aterrorizava era tão grande, que se transformou em cabo eleitoral de policiais que buscavam espaço na política.
Pereira sempre era investigado quando alguém da máfia dos caça-níqueis era executado. Foi suspeito na morte do contraventor Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004, na saída de uma academia em Jacarepaguá. E teve o nome citado no atentado à bomba que matou Diogo Andrade, filho do contraventor Rogério de Andrade, em 2010. O ex-policial Helinho também era suspeito de envolvimento com caça-níqueis. Ele e os ex-policiais Fábio de Menezes de Leão, o Fabinho, e Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, eram homens de confiança do ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, que teve o mandato de deputado estadual cassado por suas ligações com a quadrilha de Rogério Andrade.
Milicianos tentam expandir negócios para os caça-níqueis
Cobranças de taxas de segurança, tráfico de drogas, exploração clandestina de transporte alternativo e comércio ilegal de gás de cozinha e de TV a cabo estão entre as fontes ilícitas de dinheiro das quadrilhas de milicianos. Porém, os homens que sofreram o atentado, na manhã de ontem, em um clube no Recreio dos Bandeirantes, não se contentavam com a fortuna mensal que extorquiam das comunidades pobres da Zona Oeste. Segundo fontes da polícia, eles resolveram se imiscuir no milionário mundo dos caça-níqueis. Seus negócios passaram a incomodar os chefões do jogo, que culturalmente resolvem suas pendengas à bala. Há vários inquéritos abertos na Divisão de Homicídio investigando esses crimes.
Um dos inquéritos tenta elucidar a morte do tenente PM João André Ferreira. O oficial da polícia foi morto com vários tiros em em frente a uma padaria da Ilha do Governador, Zona Norte. O sargento Pereira, executado no atentado de ontem, figurava entre os suspeitos desse crime.
A execução do cabo William Ferreira da Silva, morto no calçadão da praia do Recreio, em abril desse ano, é outro crime relacionado à guerra. Assim como o assassinato do também cabo da PM Eduardo Dias, o Eduardinho, ex-genro de Ricardo Teixeira da Cruz, alvejado na areia da Praia da Reserva. De acordo com o delegado titular da Delegacia de Homicídios da capital, Fabio Cardoso, um dos feridos no crime de ontem já foi ouvido. A esperança dos investigadores é que as imagens das câmeras de segurança possam ajudar na identificação dos atiradores, que só teriam coberto o rosto pouco antes do crime.