Rio - Milhares de manifestantes participaram da Marcha das Mulheres, na tarde desta quinta-feira. Por volta das 16h, elas se concentraram no Largo da Carioca, e caminharam por várias ruas do Centro até à Praça XV, onde a presidente afastada Dilma Rousseff discursou. Durante a passeata, as mulheres gritaram "Fora, Cunha!" e levaram cartazes contra o machismo e também lembravam o caso do estupro coletivo contra uma adolescente, na Zona Oeste.
Na concentração para o ato, um grupo fez uma performance simulando a queda do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB). Além de ativistas, artistas e políticos, representantes da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Frente Brasil Popular participam da manifestação.
Rousseff chegou por voltada das 19h20. Sem muitos seguranças — quebrando o protocolo — com os vidros abertos e com um olhar mais leve, a presidenta afastada subiu ao palco montado no local ao lado de outras mulheres, entre elas artistas, intelectuais e deputadas, que falaram antes da petista. De acordo com os organizadores, a manifestação no Centro do Rio reuniu cerca de 30 mil pessoas. No entanto, a Polícia Militar do Rio não quis informar a estimativa de público na Praça XV.
Durante seu discurso, Dilma Rousseff criticou o governo de Michel Temer. Ela voltou a classificar e reiterou que o processo de impeachment que ela sofreu foi "golpe". A política defendeu que as políticas aplicadas por Temer não são as mesmas pedidas por aqueles que a elegeram com 54 milhões de votos. "Fica claro nas gravações que eles precisaram tirar meu governo para impedir que as investigações de corrupção cheguem a eles. Esse golpe não é um tradicional, como se uma árvore fosse cortada por um machado. Nesse golpe, a árvore é tomada por parasitas corruptos ", disse.
No ato, alinhado por grupos de defesa das mulheres, Dilma ressaltou a força de uma mulher e condenou as agressões que elas veem sofrendo nos últimos dias. "Como eu sou mulher, eles acham que mulher é frágil. Se fossemos frágeis, a gente não criava filho. Não trabalhávamos e criávamos as crianças. Não teríamos um trabalho, nos formaríamos numa faculdade. Se a gente fosse tão frágil, eu não seria a primeira mulher presidente". A presidenta afastada criticou o estupro coletivo de uma menina na Zona Oeste e também lembrou do preconceito sofrido por babás que não podem frequentar o mesmo banho que as suas patroas, no Coutry Club, em Ipanema.
Dilma afirmou que "é lamentável que o escolher uma secretaria das mulheres ela se manifeste publicamente sendo contra o aborto legal, no caso de estupro", que é previsto em lei. De acordo com Rousseff, "um agente público, homem ou mulher, mais sobretudo uma mulher, não pode achar que suas convicções pessoais se sobrepõem a lei. Para milhares de pessoa, a política criticou Temer e o seu governo. Ela lembrou que vários ministros de Michel Temer estão sendo investigados pela Lava Jato. Em determinado momento Dilma afirmou que os áudios divulgados pela imprensa mostram que ouve um plano para derrubar o seu governo. Por fim, a petista conclamou a população a lutar pela democracia.
A deputada federal Jandira Feghali (PcdoB) afirmou que as mulheres têm "protagonizado a luta pela democracia e contra o golpe" diante do processo de impeachment contra Dilma. A parlamentar destacou ainda que "não há democracia com mulheres sem os seus direitos. "Dilma, que valoriza a pauta das mulheres e de gênero, vem neste momento que vivemos esta tragédia recentemente. Essa passeata soma com muita força a nossa luta", reforçou Jandira.
Visitas políticas
Horas antes de participar do ato na Praça XV, no Centro do Rio, Dilma Rousseff visitou o governador licenciado do Rio, Luiz Fernando Pezão, no apartamento dele no Leblon, na Zona Sul. A petista foi recebida pela primeira dama Maria Lucia Horta Jardim e subiu para a residência do político. Em nota, o peemedebista afirmou que "Fiquei muito feliz em receber a presidenta aqui na minha casa e estou muito tocado com o carinho dela. Muito importante receber a força de uma pessoa que já enfrentou a mesma situação pela qual estou passando. Estou muito otimista com o tratamento”, declarou Pezão por meio de nota. Luiz Fernando trata um linfoma não-Hodgkin, diagnosticado no último dia 24 de março, o mesmo enfrentado pela presidente.
De acordo com a coluna Informe, do DIA, a visita de Dilma ao Rio teria sido também por motivação política. Após ser abandonada por Eduardo Paes e Pedro Paulo Carvalho — pré-candidato à Prefeitura — ambos do PMDB, a política estaria disposta a reatar com Marcelo crivella (PRB), que também será pré-candidato ao comando da cidade. Assim como Pedro Paulo, o pastor licenciado da Igreja Universal votou a favor do afastamento de Dilma, mas estaria disposto a rever o seu voto na próxima etapa do processo — que poderá determinar ou não a saída definitiva de Dilma do poder.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento