Rio - Um relatório resultado de uma fiscalização realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) apontou diversas irregularidades no Hospital Municipal Salgado Filho, no Andaraí, uma das unidades de referência no atendimento de cidadãos e turistas durante os Jogos Olímpicos no Rio. Entre os problemas apontados estão a superlotação de enfermarias e medicamentos fora da validade. Outros hospitais também foram vistoriados pelo conselho e a conclusão da fiscalização deve ser divulgada na próxima semana.
Na sala de observação vermelha, por exemplo, que tem pacientes mais graves, havia mais gente do que a sua capacidade. “Setor apresentando superlotação, com número de leitos e macas muito superior à sua capacidade instalada, no que tange a espaço físico e a equipamentos”, aponta o relatório, ressaltando que no local possui quatro leitos, mas estava atendendo 10 pacientes. No setor de trauma, não havia tanque para a higienização de ferimentos.
Um dos pacientes que estava na sala vermelha, inclusive, havia sofrido um enfarto agudo do miocárdio, mas estava sem monitoração dos sinais vitais. "A despeito da necessidade de monitorização de sinais vitais, se encontrava em maca de transporte, sem monitorização, por falta de equipamento."
A superlotação se repete na sala amarela, onde existe sete leitos para pacientes homens e outros sete para mulheres. Entretanto, o local estava com mais que o triplo no momento da fiscalização — 25 homens e 22 mulheres—, com pessoas em macas nos corredores.
"Há pacientes internados no corredor da emergência, aos cuidados da equipe da Sala Amarela, que apresenta evidente sobrecarga de trabalho, o que pode colocar em risco a qualidade da assistência prestada à população. No momento da visita de fiscalização, havia sete mulheres e 10 homens distribuídos ao longo do corredor da unidade", descreve o relatório.
Medicamentos vencidos
No setor semi-intensivo, os médicos não encontraram superlotação no momento da fiscalização, mas quem trabalha no local relatou que o excesso de pacientes é rotineiro. Na unidade foram encontrados vários frascos de heparina vencidos.
"Identificados frascos de heparina cujo prazo de validade expirou em 30/06/2016, o que evidencia falta de controle sobre os medicamentos utilizados no setor", aponta o relato da comissão.
Setor pediátrico também com problemas
Os médicos que participaram da fiscalização também encontraram problemas no setor de emergência da Pediatria. A comissão disse que o espaço que hoje atende crianças em observação é inadequado. Uma criança que estava grave, com quadro de choque térmico, estava sem manta e não havia ponto de luz para aquecê-la.
Ainda segundo relatório, o hospital não possui leitos de Terapia Intensiva Pediátrica. Também foram identificadas seis crianças em observação na sala de nebulização, desde a noite do dia anterior, por falta de leitos, segundo seus responsáveis.
" O espaço é exíguo e absolutamente inadequado à acomodação de crianças e seus responsáveis pelo período de tempo informado. Tais fatos permitem inferir que não existem condições de assistência de qualidade ao paciente pediátrico admitido na Emergência do hospital."
O relatório conclui que, diante das atuais condições de funcionamento, o setor de emergência do Hospital Salgado Filho pode ter a qualidade de atendimento pode ser comprometida. Um termo com exigências foi emitido e elas devem ser cumpridas no prazo de sete dias.
Secretário desqualifica relatório
Em entrevista ao DIA, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, desqualificou o relatório. Para ele, "esse tipo de colocação do Cremerj não contribui para o avanço dos Jogos e quer, intencionalmente, fragilizar a imagem da instituição". O secretário destacou ainda que as informações reunidas no documeno "não correspondem a realidade da nossa rede".
"A nossa cidade esta preparada para o período da Olimpíada. Desqualifico o relatório. Não tem superlotação. Pegaram momentos pontuais de casos específicos e de possíveis fragilidades e que são inexpressivas. A maioria deles não corresponde a verdade.
Soranz contou ainda que o relatório não foi entregue oficialmente à secretaria. Em relação às ampolas com data de validade vencida, o secretário disse que acredita "não ser do hospital, pois o número da série não pertence aos relatórios da enfermagem da unidade". Com isso, ele ressaltou que abrirá um processo para apurar por que esses remédios estavam ali.
"Quando eles citam que encontraram um estoque crítico, não especificam o que seria esse ‘crítico’. Nós temos tudo lá. Não dá nem pra dizer que não tem material de trabalho, porque tem. E garanto que todas as unidades estão abastecidas de medicação suficiente para atendimentos", afirmou.
Já em relação à superlotação da "sala amarela", Soranz explicou que ali é feita uma primeira triagem, onde os pacientes são transferidos. "Em alguns momentos aquele local fica mais cheio e pegaram justamente um momento pontual de superlotação. Esses pacientes relatados nos corredores estão, certamente, em transição e, por isso, estão em macas de transporte", reforçou o secretário, que acrescentou ainda que "não há reclamações de mães sobre o atendimento infantil".
O secretário de Saúde enfatizou que os turistas que vierem para a cidade durante o período olímpico poderão optar tanto pela rede pública quanto privada. Ele explicou que as Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde resolvem os pequenos problemas. "Nossa recomendação é que só procurem as unidades hospitalares em casos mais graves, assim como a própria população da cidade", sugeriu.
"No Salgado Filho, temos médicos que podem fazer esse atendimento. Cerca de 30% deles falam inglês e 25% falam espanhol, dentro de um inventário em toda a rede, que conta com mais de 40 mil profissionais. Vale lembrar que nesse período dos Jogos foram suspensas as férias de todos os médicos da rede municipal", contou.