Por gabriela.mattos

Rio - ‘Sou chamado de terrorista, Osama Bin Laden, homem-bomba. Entendo, mas confesso que machuca. Temos que parar com esta cultura ignorante de que todo islamita é terrorista. Somos perseguidos.” O desabafo é de Cristiano de Souza, de 39 anos, morador de Piabetá, Magé, na Baixada Fluminense, e convertido ao islamismo há sete anos.

Há seis meses no Rio, Cristiano, que agora faz questão de ser chamado de Abdul Rhaman, veio de Londrina, no Paraná, para trabalhar como motorista de ônibus e teme que ataques recentes como o da França e Alemanha, se repitam no Rio durante os Jogos Olímpicos. Para ele, a perseguição aumentou depois dos atentados. “Se me agredirem, poderia revidar para me defender? Caminhar no shopping, por exemplo, é um desafio, pois logo olham para sua bolsa e temem que seja uma bomba. Somos contra o terrorismo. Após os ataques na França, ficou pior para todos nós”, lembrou Cristiano, que no local onde trabalha é apelidado de Bin Laden.

Durante a entrevista ao DIA%2C passageiro de ônibus gritou para Cristiane e Cristiano%3A “homem-bomba”Márcio Mercante / Agência O Dia

Vestido a caráter, ele conta que antes de se converter ao islamismo, integrava uma igreja evangélica. “Tenho quatro filhas e duas delas são convertidas à Assembleia de Deus. Uma, de 19 anos, fica preocupada e pede para que eu tire a barba, pois acredita que possa ser alvo de preconceito”, comenta.

De acordo com Fernando Celino, 34 anos, assessor da Mesquita da Luz, oficialmente chamada de Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio, que fica na Tijuca, em menos de um ano e meio, três mulheres adeptas ao islamismo, chegaram a ser agredidas no Rio.

“Uma levou soco no olho em plena Avenida Rio Branco. Outra levou um chute nas costas. E por aí vai. Além disso, há casos de cusparada no rosto de mulheres. Há preconceito, agressões verbais e físicas. Aumentou a hostilidade com os ataques no exterior”, afirmou.

Ainda segundo ele, o Islã repudia o terrorismo e não ensina esta prática. “Mancham nossa religião. O Islã é um código de vida para o muçulmano que dá orientação a questões de conflitos. Só permite o combate para se defender”, alegou Fernando, convertido há dez anos.

‘Vejo medo nos olhos das pessoas’

Chamada nas ruas de ‘mulher-bomba’ e de ‘esposa de Bin Laden’, a analista Cristiane de Souza Freitas, 41 anos, se emociona ao lembrar dos momentos em que foi hostilizada por andar vestida a caráter nas ruas do Rio.

“Acontece na praia, shopping, em qualquer lugar. Vemos o preconceito nos olhos das pessoas. Hoje, infelizmente, vemos até o medo. Outro dia, entrei num restaurante da Tijuca e ouvi: ‘Chegou a mulher-bomba’. É triste”, contou Cristina, divorciada de um pastor evangélico e mãe de uma jovem de 19 anos, que inicialmente não aceitou sua religião.

Dois mil islamitas

Atualmente no Estado do Rio, existem dois mil muçulmanos. Cerca de 400 são membros da Mesquita da Luz, oficialmente chamada de Sociedade Beneficente Muçulmana. Os encontros de oração ocorrem às sextas-feiras, às 12h. Segundo Fernando Celino, a Sociedade não os obriga a andar caracterizados nas ruas. Para os ‘convertidos’, a maioria das agressões verbais acontecem na Zona Sul e são praticados por jovens. Uma das ofensas foi testemunhada por equipe do DIA, sexta-feira, quando, da janela de um ônibus, um jovem chamou um islamita de ‘homem-bomba’.

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