Por adriano.araujo

Rio - Uma investigação revelou que a Unimed Federação recrutava médicos para que eles reaproveitassem material cirúrgico em procedimentos cardíacos. A técnica, que é proibida pela Anvisa, era realizada em seis hospitais particulares de renome no Rio e em Niterói. Todos os envolvidos no esquema foram denunciados à Justiça.

O caso, revelado pelo Fantástico neste domingo, foi descoberto após um cardiologista envolvido se arrepender e denunciar o esquema. Em um email enviado a colegas, Luiz Eduardo Camanho revela se sentir aliviado de não fazer mais parte do esquema. "A partir de agora não precisarei mais participar daquele esquema perverso", dizia no documento, que deu início à investigação.

Parte dos materiais que eram reprocessados foram encontrados no chão e perto de lixeirasReprodução TV Globo

Na prática, eram usados catereres, agulhas transeptais e introdutores. A investigação da Subsecretaria de Inteligência do Rio, com base na denúncia do médico, mostra que os materiais eram utilizados mais de uma vez. Para a polícia e o Ministério Público, a prática é um crime e, mesmo após reprocessado e esterilizado, é proibido com base em resolução de 2006 da Anvisa.

"O que eles faziam era duplamente ilegal. Primeiro, porque eles reprocessavam o material em desacordo com as recomendações da Anvisa e reprocessavam mal, porque os laudos periciais apontavam presença de sangue nos produtos médicos reprocessados", diz Sérgio Sahione, subsecretário de inteligência adjunto.

Segundo a denúncia, os hospitais envolvidos são a Clínica São Vicente, Copa D'Or, Quinta D'Oor e Hospital Unimed Barra, no Rio. Em Niterói, a Casa de Saúde Santa Marta e Hospital de Clínicas. Nestas unidades, foram recolhidos 1.545 itens, alguns cateteres prontos para serem reaproveitados, encontrados no chão, pertos de lixeiras e com resíduos de sangue. Outros tinham uma ponta protegida por um pedaço de canudo de refrigerante..

Alguns cateteres encontrados nos hospitais eram protegidos com um pedaço de canudo Reprodução TV Globo

No esquema, a Unimed Federação conseguia reduzir os custos dos procedimentos e os médicos lucravam mais. Os médicos, através de empresas criadas por eles, forneciam o que chamavam de "pacote cirurgia", que incluía materia cirúrgico reprocessado. Entre 2015 e 2015, foram 1792 procedimentos nestas condições.

A polícia, com autorização da Justiça, monitorou os médicos citados nas denúncias do cardiologista arrependido. Foram mais de 16 mil ligações. Em uma delas, a mulher de um dos envolvidos mostra preocupação após ele deixar o material dentro do carro, em um dia que houve uma vistoria no hospital. Na conversa, ele diz que todo o material estava fora da validade. Em outro grampo, dois médicos falam sobre uma operação da polícia no hospital Santa Martha, em Niterói; Eles haviam deixado material que seria reaproveitado dentro de um armário da unidade.

Os médicos envolvidos contestam as críticas e a portaria da Anvisa. Diz que a prática é realizada e aprovada em vários países e apresentaram cartas de cardiologistas europeus e americanos aprovando o procedimento. O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia reprova a prática e reitera a recomendação da Anvisa. "A legislação não deve ser questionada, deve ser cumprida", sentenciou Marcus Vinicius Malachias.

Os 24 réus, incluindo 19 médicos e dois diretores da Unimed Federação do Rio, responderão por organização criminosa e adulteração de produtos medicinais. Eles podem pegar até 20 anos de prisão caso sejam condenados por todos os crimes. Em notas, alguns envolvidos e hospitais negaram os crimes. 

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