Rio - A ação de traficantes em comunidades de São Gonçalo é um forte desafio às forças de segurança do estado. Há localidades, como Guaxindiba, que mais parecem terras dominadas pelo terror. Uma barbárie cometida contra um cabeleireiro, de 52 anos, morador do bairro, mostra o descontrole na área. Ele foi executado na manhã de sexta-feira. Em um vídeo de quase seis minutos vazado pelos próprios criminosos, em rede social, Maurício Cosme de Azevedo aparece amordaçado com as mãos amarradas dentro de um carro. Após ser submetido a tortura psicológica, ele é morto com vários tiros.
A cena é chocante e lembra a ação de terroristas contra prisioneiros. O traficante, ainda não identificado, descarrega por duas vezes a pistola em direção à cabeça da vítima. O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. De acordo com a polícia, a morte teria sido imposta por criminosos da comunidade da Caroba, em Santa Luzia. Eles estavam irritados com a resistência do cabeleireiro à colocação de barricadas próximo à sua casa.
Segundo moradores, Maurício teria tirado fotos das barricadas espalhadas na via e, ao saberem, os bandidos teriam decidido a sua sentença de morte. Na noite do último dia 21, Maurício foi retirado de dentro de casa pelos traficantes. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte dentro do carro, que era roubado.
“Há três meses começaram a colocar barricadas, transformando o local, que não é uma favela, numa boca-de-fumo e agora num quartel general do tráfico. Obrigam os moradores a usarem só um caminho e quem entra de carro é escoltado por motocicletas. Se tornou um inferno”, lembrou um morador que pediu para não ser identificado. “É a lei da mordaça. Ele bateu de frente com os traficantes e deu nisso”, acrescentou.
Moradores afirmam que os traficantes seriam de Itaboraí e do Salgueiro, em São Gonçalo. O corpo de Maurício foi enterrado, na tarde de domingo, no Cemitério Parque da Paz, no Pacheco.
No dia 30 de setembro, um casal foi morto também em São Gonçalo. Edvaldo Correa, de 70 anos, e Jane Correa, 72, foram torturados e mortos por traficantes também por causa de colocação de barricada perto de casa.
“Foi uma ação muito cruel”
Além da crueldade contra o cabeleireiro, um detalhe no vídeo feito pelos próprios traficantes chamou a atenção de especialistas em Segurança Pública. “Eles ainda recolhem as cápsulas no chão. Foi muita brutalidade. Usaram uma arma de calibre restrito convertido para fogo automático. Foi uma ação terrorista adotada pelo tráfico”, afirmou Vinícius Domingues Cavalcante.
No vídeo, é possível ouvir que em determinados momentos os traficantes observam a movimentação de uma viatura, chamada de ‘loguinho’, em alusão ao veículo Logan, usado ainda em alguns batalhões. Em seguida, a sentença de morte: ‘É a hora!’, diz um criminoso. Maurício não resiste e morre.
“Mais uma vida ceifada nesta cidade que está a mercê dos criminosos. É preciso uma pronta resposta do comandante para a restauração da ordem local e resgate da confiança na PM”, comentou o coronel Paulo César Lopes, conhecido como ‘linha dura’.