Por gabriela.mattos
Lochte terá que voltar ao Brasil%2C após episódio com outros nadadores Efe

Rio - Autoridades de segurança se prepararam durante meses para oferecer proteção aos estrangeiros que vieram para os Jogos Olímpicos. Mas, no sentido inverso, alguns estrangeiros acabaram dando muito trabalho à Polícia e à Justiça.

Durante e até depois das competições, o Rio testemunhou crimes ou delitos de menor periculosidade cometidos por atletas, representantes de delegações olímpicas e turistas vindos de outros países. E pelo menos 14 deles não vão deixar saudade aos cariocas. O caso mais recente envolve o presidente da Confederação de Volêi do Irã, Mansour Damirchi, de 53 anos, preso em flagrante por tentativa de furto em Copacabana.

O iraniano tentava sair de uma loja na Avenida Atlântica na quarta-feira sem pagar por alguns produtos que havia escondido em sua cintura. Detido por policiais da 12ª DP (Copacabana), foi liberado após pagar fiança e responderá pelo crime em liberdade, mas seu passaporte permanece apreendido.

“Alguns chegam ao Brasil imaginando o país como se fosse uma republiqueta, pois a imagem da violência no Rio circula em todo o mundo. Acham que podem fazer o que quiserem, que não haverá punição, que vão ser tratados com regalias. A polícia mostrou que estão errados. A resposta foi dada”, comentou o especialista em segurança pública e fundador do Bope, coronel Paulo Amêndola.

Ontem, o Tribunal de Justiça do Rio informou que realizou 244 audiências, efetuou 97 transações penais e decretou 76 prisões preventivas durante os Jogos. Entre as principais ocorrências, destaque para o cambismo, com 182 registros.

O caso mais rumoroso foi protagonizado por nadadores americanos, acusados de falsa comunicação de crime. “O Juizado teve atuação firme, corajosa e resolveu com equilíbrio a situação”, disse o desembargador Mauro Martins, que coordena a Comissão Judiciária de Articulação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais em Eventos Esportivos, Culturais e Grandes Eventos. Segundo ele, turistas se surpreenderam com a ação da Justiça. “Uma juíza contou que alguns turistas estrangeiros revelaram surpresa por estarem diante de uma magistrada, em uma audiência em plena madrugada. Essa ideia que o torcedor estrangeiro levou para seu país é muito positiva”.

Para o sociólogo Paulo Baía, da UFRJ, o caso também foi bom para a imagem das forças de segurança, do Ministério Público e do Poder Judiciário. “Já os atletas acreditam na impunidade brasileira, não voltaram ao Brasil para o procedimento judicial”, pondera.

Falsa comunicação de crime, o caso mais rumoso na mídia internacional

O caso dos nadadores americanos foi o que ganhou mais repercussão internacional e causou revolta entre os cariocas. A Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat) concluiu as investigações contra o campeão olímpico Ryan Lochte. Ele foi indiciado por falsa comunicação de crime. O atleta será intimado a prestar novo depoimento no Brasil e, caso não venha dos EUA para a audiência, será condenado à revelia e pode receber pena de até seis anos de prisão.

Ryan e outros três nadadores teriam arrumado uma confusão num posto de combustíveis, na Lagoa. Ryan teria danificado uma porta do banheiro do posto e no dia seguinte deu entrevista à TV americana dizendo que tinha sido assaltado. A Polícia Civil descobriu a farsa.

Durante depoimento de dois nadadores numa delegacia da Zona Sul, eles foram hostilizados por pedestres, que chamaram os atletas de traidores, mentirosos e canalhas. “Esse caso foi, na minha opinião, o que mais retrata a certeza de impunidade e como eles imaginam o Rio”, ressaltou Paulo Amêndola.

Mais casos

?Entre os supostos crimes cometidos por estrangeiros na cidade no período olímpico e pós-olímpico está o de tentativa de estupro, agressões físicas, vandalismo e furtos entre turistas. Até o presidente do Comitê Olímpico da Irlanda, Patrick Hickey, de 71 anos, foi acusado de envolvimento em esquema internacional de revenda ilegal de ingressos. Ainda tiveram três atletas da delegação da República de Figi, que foram condenados a pagar prestação pecuniária por perturbação de tranquilidade por constrangerem três camareiras que prestavam serviços na Vila dos Atletas. 

Um dos casos mais graves durante a Olimpíada foi a prisão de dois pugilistas. Em casos semelhantes, o marroquino Hassan Saada, e outro da Namíbia, Jonas Junias Jonas, foram presos acusados de tentativa de estupro na Vila Olímpica. Junias teria oferecido dinheiro a uma camareira em troca de sexo. Já Hassan teria passado a mão nas pernas e seios de duas funcionárias, que fugiram do local.

Já o judoca belga Dirk Van Tichelt, 32, apareceu com um olho roxo no Parque Olímpico para uma competição. Ele teria se envolvido em uma confusão junto com mais um compatriota num hotel de Copacabana. Dirk subiu ao pódio na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico, para comemorar a medalha de bronze conquistada na categoria até 73kg com amigos e parentes. Lá, se envolveu numa briga com um recepcionista do Hotel Best Western. Segundo a polícia, o atleta tentou invadir o hotel atrás de uma garota de programa, que, segundo ele, havia furtado seu celular. O judoca negou o envolvimento, alegando que a lesão era consequência da luta.

Não foram só atletas e representantes de delegações olímpicas que se meteram em confusão durante os Jogos no Rio. Três estrangeiros latinos foram acusados de furtar o equipamento de trabalho de um jornalista australiano em um bar em Ipanema.

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