Rio - Morador de um condomínio de classe média na Barra da Tijuca, o coronel da PM de 62 anos preso na noite de sábado com uma criança de 2 anos nua em seu carro é casado e pai de uma filha, que seria estudante de Medicina, segundo a Polícia Civil. As investigações incluem a suspeita de que o oficial integre uma quadrilha de pornografia infantil ou até mesmo tráfico de pessoas. Em 1993, O DIA noticiava com exclusividade a prisão do então capitão Pedro Chavarry Duarte, acusado de maus-tratos a um bebê de três meses.
“Vamos trocar informações com a Polícia Federal. Acredito em quadrilha. Não tem somente o coronel e a empregada nessa história. É uma coisa mais profunda”, disse o delegado Ronaldo Oliveira, diretor do Departamento de Polícia Especializada.
Ontem a polícia esteve no endereço do coronel; porém, sua família não estava mais lá. “Foi preciso chamar um chaveiro para entrar no apartamento”, contou a delegada Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Decav). Também não foi localizado nenhum computador na residência. Uma busca na sede da Caixa Beneficente da PM não encontrou qualquer aparelho pessoal do suspeito de estupro de vulnerável. Para a delegada, no entanto, as investigações praticamente começaram ontem, e que fatos novos devem surgir no decorrer do trabalho.
A delegada contou que a mãe da menina resgatada das mãos do coronel estava trabalhando (é manicure) quando a criança foi levada pela empregada de Chavarry da casa onde mora com pai, mãe e avó. “A mãe, quando soube, veio direto para a Cidade da Polícia”, disse. Para o pai da criança, a mulher que foi presa temporariamente ontem de manhã disse que levaria a menina para se cadastrar em uma ONG para tirar fotos com Papai Noel.
Segundo a delegada, o coronel frequentava a comunidade Uga Uga, em Ramos, há pelo menos dois anos. Fazia doações de alimentos, enxovais para recém-nascidos e fraldas. Foi assim que conquistou a confiança de muitos pais. A irmã da empregada de Chavarry, que trabalha como faxineira para ele, contou à polícia que sempre via o coronel com muitas crianças, sendo que algumas mães deixavam os filhos viajarem com ele. “Há um mês ele viajou com uma criança da comunidade. Para onde ele levava essas crianças? Temos muitos pontos obscuros nesse caso”, disse a delegada.
Ontem, a Justiça decretou a prisão preventiva de Chaverry, que está no Batalhão Prisional da PM, em Niterói. O delegado Ronaldo Oliveira pediu a quem tenha informações sobre os supostos crimes do coronel que procure a polícia, através da Central de Atendimento ao Cidadão. “Ele pode ter abusado de outras crianças.” Além de presidir a Caixa Beneficente da PM, o coronel era diretor da Irmandade de Nossa Senhora das Dores da PM, que acolhe filhos órfãos de militares do Rio. Lá, Chaverry lidava com crianças de todas as idades.
Jornalista Tim Lopes noticiou no DIA a prisão
Em 1993, O DIA publicou, com exclusividade, a prisão em flagrante do coronel Chavarry, quando ele ainda era capitão. Na época, foi acusado de manter uma menina de apenas três meses chorando por mais de seis horas num cômodo em Bangu. A denúncia foi feita ao deputado Paulo Melo, encontrou a criança e providenciou a prisão do policial.
Na ocasião, o acusado alegou que fazia trabalho social com as crianças. Moradores relataram que ele costumava levar crianças para o imóvel e deixá-las sem comida e água. A reportagem foi assinada pelo jornalista Tim Lopes, assassinado em 2002.
Polícia Civil elogia soldados PMs e Caixa Beneficente lamenta prisão
O diretor do Departamento de Polícia Especializada, delegado Ronaldo Oliveira, não poupou elogios aos PMs que prenderam, em flagrante, o coronel Chavarry, suspeito de estupro de vulnerável. “Quem conhece a hierarquia da PM sabe como é difícil para um soldado dar voz de prisão e conduzir um coronel para a Polícia Judiciária”, afirmou o delegado, dizendo que “é desses policiais militares que precisamos cada vez mais.”
Por outro lado, o substituto de Chavarry na presidência da Caixa Beneficente da PM, Robson de Almeida Paulo, divulgou nota lamentando o ocorrido com o coronel. “Os fatos noticiados pela mídia serão apurados na instrução criminal, respeitados os princípios constitucionais da presunção da inocência, do devido processo legal e o contraditório”, conclui o comunicado, que não dedica uma palavra à criança vítima. A PM, em nota, diz que “não é a instituição, mas um cidadão que cometeu um crime abjeto e que não teve e nunca terá a nossa complacência.”