Por gabriela.mattos

Rio - Divergências à parte, candidatos à Prefeitura do Rio incorporaram em seus discursos um elemento em comum: falam, direta ou indiretamente, da importância da figura do ex-governador Leonel Brizola, morto em 2004.

Fundador do PDT, o líder trabalhista deixou como principal herança mais de 500 CIEPs — “Brizolões” —, escolas de tempo integral idealizadas por Darcy Ribeiro e desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, onde os jovens estudavam, praticavam esportes, desenvolviam atividades artísticas e culturais, recebiam assistência médica, odontológica, além de três refeições diárias.

Os ‘Brizolões’%2C desenhados por Oscar Niemeyer%2C ofereciam ensino integral com estudo%2C esportes e cultura. Hoje%2C os prédios remanescentes funcionam em período reduzidoAgência O Dia

Em entrevista que será publicada amanhã no DIA, Alessandro Molon (Rede) criticou o modo como os CIEPs foram abandonados pelos governos subsequentes. Nas redes sociais e em debates, Jandira Feghali (PCdoB) evoca Brizola e Darcy quase sempre quando fala de educação. Marcelo Freixo (Psol) participa da campanha do vereador Leonel Brizola Neto, colega de partido, e ressalta a importância de se trazer de volta as ideias brizolistas.

Em encontro recente na sede do PRB, a campanha de Marcelo Crivella foi comparada à do ex-governador. E Pedro Paulo (PMDB) tem como vice de chapa Cidinha Campos (PDT), brizolista das antigas.

Organizador do livro “A Razão Indignada — Leonel Brizola em Dois Tempos” (Civilização Brasileira, 2016), que rememora os governos do pedetista, o professor da Uerj Américo Freire acredita que, apesar de alguns problemas na concepção dos projetos brizolistas, eles evidenciaram corretamente o reconhecimento básico de direitos para a população.

“Muita gente tem chegado à conclusão de que não há como construir um estado democrático sem avançarmos nessas políticas”, avalia.

Freire considera, porém, que as menções ao político não têm sido acompanhadas por propostas efetivas.“Não vi nenhuma reflexão ou proposta séria que tenha tomado Brizola e seus governos como referência. Muito jogo de cena. O que temos é uso barato e político da memória dele. A Cidinha, militante histórica do trabalhismo, está ao lado do Pedro Paulo, que tem um perfil político diametralmente oposto ao do Brizola”, opina.

“Ele passou a ser um paradigma pelas teses que defendia: o ensino integral, a participação popular”, aponta o cientista político Paulo Baía, daUFRJ. “Em um momento de crise de representação, há um resgate de algo que a população valoriza. Eles citam Brizola, mas não estariam dispostos a aplicar efetivamente as políticas dele”, afirma.

Netos usam sobrenome, mas divergem politicamente

A herança brizolista no Rio também divide a família do líder trabalhista. O vereador pelo Psol Leonel Brizola Neto, barrado no PDT em 2015 após denunciar com frequência a suposta ditadura interna do presidente do partido, Carlos Lupi, pode ser facilmente confundido com o irmão Carlos Daudt Brizola, que usa Brizola Neto como nome político. Mas apenas no sobrenome. Ele deixa claro.

Ex-Ministro do Trabalho do governo Dilma Rousseff, Carlos Daudt permanece no PDT de Lupi e concorre agora à Prefeitura de São Gonçalo.

“Eu e meu irmão estamos politicamente rompidos. O brizolismo não tem como aceitar o PMDB do Moreira Franco, que acabou com os CIEPs”, lembra o vereador, em alusão à coligação do PDT com peemedebistas e ao governador que sucedeu Brizola, em 1987.

O irmão se defende: “A aliança do PDT é com o PMDB do Eduardo Paes, que construiu as Escolas do Amanhã, projeto que resgata o legado das escolas de tempo integral idealizadas por Brizola. Não acredito em trabalhismo fora do PDT”, diz.

Além dos dois, o Estado do Rio ainda tem outra herdeira do velho Brizola: a neta Maria Ines, de 20 anos, que pleiteia uma vaga de vereadora em Nova Iguaçu pelo PHS. De acordo com a revista Piauí, a moça, que apoia a reeleição do prefeito Nelson Bornier (PMDB) naquele município, chegou a posar para foto com Jair Bolsonaro, deputado de extrema-direita e antítese completa do brizolismo.

?Reportagem do estagiário Caio Sartori

Você pode gostar