Por tabata.uchoa

Rio - Ao analisar os gastos do governo fica difícil entender por que a segurança pública não consegue controlar a incidência criminal e a sensação de insegurança. Segundo dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a Segurança foi a área que mais recebeu recursos nos últimos anos. Em 2016, o orçamento da pasta foi de R$ 9,8 bilhões, quase o mesmo da Saúde e Educação, que, juntas, tiveram R$ 11 bilhões.

Posto de Policiamento de Proximidade%2C em Inhaúma%2C próximo do Shopping Nova América%2C está totalmente abandonado e com marcas de tirosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Nessa política de segurança, entretanto, até os policiais são vítimas. Somente em 2016, mais de 300 foram baleados, sendo que 73 morreram, entre eles, o agente da Força Nacional Hélio Andrade, que estava no Rio a serviço dos Jogos Olímpicos. Para o cientista social Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Uerj, este ano tem sido muito ruim e os prognósticos não são nada bons.

“O projeto das UPPs tem que ser repensado, assim como a política de guerra aos traficantes”, defende o sociólogo, para quem o processo de mudança passa pela sucessão do secretário José Beltrame. Para o deputado Luiz Paulo Rocha, “o Beltrame diz que vai sair por falta de notícia. Ele não poderia sair antes das Olimpíadas, porque era um dos coordenadores do evento, mas isso acaba domingo (hoje)”. Ele explica que “a crise não é do secretário, mas de uma política calcada em recursos abstratos.”

Para abastecer as 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a Polícia Militar aumentou seu efetivo de 43 mil para 47 mil, entre 2012 e 2015. “Entrou na folha de pagamento e não sai mais. Mesmo com Força Nacional e Exército nesse período, as guerras têm acontecido. As tropas ficam até as eleições e, quem sabe, até o fim do ano”, afirma o deputado.

Sem energia elétrica%2C unidade da Faetec da Vila Mimosa foi fechadaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Por falta de dinheiro, o projeto das Delegacias Legais foi descaracterizado. Os banheiros públicos estão interditados e as recepcionistas que prestavam o primeiro atendimento com muito mais gentileza do que os detetives, evaporaram. Fora a falta de materiais básicos, como o papel para impressão dos registros de ocorrência. Os Batalhões da PM, conforme demonstrou recente fiscalização do Ministério Público, estão desmoronando por falta de manutenção. Enquanto isso, cabines blindadas, novinhas, foram abandonadas e viraram tábua de tiro ao alvo.

É o caso do posto de Polícia de Proximidade localizado perto do Cemitério de Inhaúma. O término do contrato de manutenção da frota da PM, por falta de pagamento, deixou os soldados ressabiados. “Vai ser como era antes, a gente vai ter que colocar óleo e trocar peças”, prevê um deles. Por causa desse contrato, o secretário Beltrame é réu em ação que pede devolução de R$ 134 milhões ao estado, sob a alegação de superfaturamento.

Educação sofre com longa greve de professores e descaso do governo

Apesar de ter a segunda maior fatia do orçamento estadual (R$ 6 bi, em 2016), a Educação fluminense só dá vexame. Este ano, os alunos ficaram quatro meses sem aula, por causa da greve dos professores. Se o resultado do Ideb 2015, divulgado há 10 dias, foi ruim, com notas abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Educação, a expectativa para o desempenho do ano que vem é pior ainda.

O governo é tão descuidado com a pasta que até hoje não apresentou o Plano Estadual de Educação que, por lei, deveria ter sido elaborado ou adequado até junho do ano passado. O estado é o único da federação que não possui sequer o projeto de lei elaborado. As recentes medidas tomadas atestam o tratamento dado à Educação. Na semana passada, o o secretário Wagner Victer reduziu em 30% o valor de compra da merenda escolar. Ele determinou às escolas que usem a tabela do TCE, que prevê valor máximo de preços menor do que a usada até agosto.

O estado também deixou de pagar a conta de luz da Faetec da Vila Mimosa, na Praça da Bandeira. Por causa de uma dívida de R$ 5,6 mil, a Light cortou a energia e se recusou a religar, mesmo depois de as meninas se comprometerem a quitar o débito e assumir o pagamento das contas futuras. Sem luz e sem apoio, a unidade fechou, frustrando as mulheres que vivem marginalizadas e viam nos cursos profissionalizantes a oportunidade para dar outro rumo às suas vidas.

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