Rio - A estudante Mylena Peixoto, de 16 anos, está a apenas dois dias de viver uma experiência digna de ficção científica, das produções de Hollywood. Amanhã ela embarca para os Estados Unidos para conhecer a Nasa e o National Radio Astronomy Observatory (NRAO), onde também fará um curso, e passará alguns dias convivendo com astronautas e trocando experiências.
Aluna da Escola Técnica Estadual (ETE) João Barcelos Martins, unidade da Faetec de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, ela e um grupo de estudantes que são membros do Clube de Astronomia de Louis Cruls, de Campos, descobriram, ano passado, cinco asteróides orbitando entre Marte e Júpiter. A pesquisa faz parte do programa da Nasa ‘Missão X - Treine Como Um Astronauta’, coordenadopelo Clube de Astronomia. A descoberta foi reconhecida pelo Programa International Astronomical Search Collaboration (Iasc) e culminou no convite para a viagem. “Sempre gostei de estudar. Será uma oportunidade incrível que vou agarrar com todas as minhas forças”, conta.
Mas Mylena é a única aluna de instituição pública do grupo que vai para os EUA. A dedicação aos estudos dos astros foi o que a destacou entre os colegas. E põe dedicação nisso. É que, além do Ensino Médio e do projeto do clube, Mylena faz curso de Enfermagem. De família muito humilde, a estudante não tem internet em casa, por isso chegou a perder muitas horas procurando locais onde pudesse fazer pesquisas. Ainda assim, ela já passou no vestibular para Ciências da Natureza para o Instituto Federal Fluminense (IFF), mas teve que entrar na Justiça para garantir o direito de ingressar no IFF antes de terminar os estudos.
“Sempre gostei muito da ciência, mas não sabia como participar de eventos na área, até que ano passado meu professor, Luiz Carlos Barroso, e minha coordenadora de Física, Mônica Pollicani, me indicaram para o programa”, contou ela.
Vaquinha para viagem
Porém, identificar cinco novos asteróides não pareceu tarefa tão difícil para Mylena quanto arrumar dinheiro para viajar, já que teria que pagar as despesas. Mylena mora com o pai, Cristiano Rangel Peixoto, que é porteiro de um hospital em Campos, a madrasta, que está desempregada, e o irmão de 2 anos.
“Precisava de R$ 10 mil. Fiz vaquinha, tive ajuda da escola, da família e amigos.Pedi patrocínio, levei muitos ‘nãos’. Em alguns lugares nem me deixaram entrar para explicar o pedido, mas consegui o dinheiro”, comemorou a estudante.
Ela explicou a importância da descoberta. “Nas imagens que analisamos os asteróides são pontos muito pequenos, difíceis de ser vistos. Mas, na verdade, podem ter quilômetros de extensão. Identificados, podemos impedir que eles venham colidir com a Terra”, detalhou Mylena, que não esconde a ansiedade pela viagem. “As malas já estão quase prontas e o coração, muito ansioso. Minha sensação é de dever cumprido. Muita gente apostou em mim”, reconheceu a jovem.
Batismo ocorrerá em cinco anos
Daqui a cinco anos, a aluna terá que batizar oficialmente os corpos celestes. Ela adianta que fará uma homenagem a parentes e ao coordenador do projeto, Patrick Miller. Um dos que perceberam o potencial da estudante foi o coordenador do Clube de Astronomia de Louis Cruls, Marcelo Oliveira. “Ela se destacou na turma pela enorme dedicação ao projeto”, contou, orgulhoso o professor.
Ele disse que o clube já descobriu 216 novos asteróides em três anos. O presidente da Faetec, Tande Vieira, comemorou a conquista de Mylena, que para ele também representa a vitória do ensino público. “Estamos contentes. Acompanhamos o processo desde o começo e fizemos todo o esforço possível para driblar a crise no país e no estado e poder ajudá-la a realizar um sonho. Temos muitos casos, como o dela nas unidades da Faetec, o que nos orgulha muito.”