Por O Dia

Rio - Em 1993, o jornalista Tim Lopes trabalhava como repórter do DIA e cobriu com exclusividade a prisão do então capitão PM Pedro Chavarry. Na época, através de uma denúncia, o oficial foi preso por manter uma criança de três meses, sozinha, chorando em uma casa abandonada. No lixo da residência foi encontrada uma receita médica com o nome de outra bebê: Érica Meireles. A polícia não buscou saber quem seria.

Passados 23 anos, investigadores da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), a partir do nome publicado na reportagem, localizaram familiares e confirmaram uma desconfiança: a criança foi levada por Chavarry na década de 1990 e nunca mais foi vista. Duas irmãs de Érica informaram isso à polícia, em depoimento nesta quinta-feira, pela primeira vez.

Chavarry está preso há 20 dias, acusado de estupro de vulnerável. Ele foi flagrado dentro do seu carro, no estacionamento de um posto de gasolina, com uma criança de 2 anos, seminua. “Encontramos duas irmãs de Érica a partir do nome citado na matéria. Elas disseram que a mãe entregou a bebê em 1993 para Chavarry já que ele se ofereceu para levá-la ao médico”, afirmou a delegada Cristiana Bento.

Mãe de 11 filhos, Sônia Maria Meireles, já falecida, entregou Érica, na época com sete meses, a Chavarry, pois a bebê estava com pneumonia. Ele teria dito que levaria a criança ao médico, mas nunca mais a devolveu e passou a fazer ameaças a Sônia. “As irmãs contaram que a mãe entregou a criança a um oficial da polícia, que era muito influente na região, e que ele passou a fazer ameaças sempre que ela buscava saber onde a criança estava. Ela ficou com medo e não registrou o desaparecimento por conta disso”, disse Cristiana. Hoje, se estiver viva, Érica está com 24 anos.

Também em depoimento, as irmãs, que na época tinham 5 e 7 anos, afirmaram que eram levadas para um local que o policial dizia ser uma creche. Elas recordam que ficavam nuas, assim como outras crianças, e que Chavarry também andava nu entre elas.

A delegacia investiga ainda o rapto de outra bebê pelo militar, que teria ocorrido em 2009. Uma mulher de nome Laís disse que entregou sua filha ao oficial, logo após a menina nascer no Hospital Geral de Bonsucesso. Outros dois filhos de Laís também foram pegos por Chavarry, que os devolveu à mãe apenas um ano depois. No entanto, a menina, de nome Maria Clara, continua desaparecida.

Pedofilia no celular de comparsa

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) descobriram que Thuanne Pimenta, de 24 anos —a mulher que entregou a menina de dois anos ao coronel, no último dia 10 — tinha imagens de pedofilia armazenadas em uma nuvem na internet (espaço de armazenamento virtual). “As imagens não foram feitas por ela. São vídeos que ela pegou na internet, de crianças e adolescentes nus, alguns fazendo sexo”, disse Cristiana.

Thuane será indiciada, agora, também por suspeita desse crime. Ela está presa como cúmplice do estupro de vulnerável praticado por Chavarry, já que entregou a menina ao coronel após dizer aos pais da criança que a levaria para tirar fotos natalinas. Sua irmã, Izabela Pimenta, também encontra-se presa por ter mentido aos policiais militares durante o flagrante da ocorrência, ao dizer que a mãe da criança estava presa e o pai, desaparecido.

A polícia pretende ouvir Chavarry na próxima semana, na unidade prisional da PM. “Queremos saber qual a finalidade desses raptos: fins sexuais, tráfico de crianças ou pedofilia”, afirmou a delegada. Ontem, teve início o processo que vai julgar a expulsão de Chavarry da PM.

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