Rio - A falta de infraestrutura para ciclistas no Rio preocupa quem se locomove de bicicleta cotidianamente e, sobretudo, os que trabalham de bicicleta. Nos bairros, distante das ciclovias das praias da Zona Sul, entregadores de estabelecimentos comerciais que passam horas por dia em bicicletas, levando produtos para diversos lugares, não têm segurança para trabalhar. Além de o número de ciclovias ser pequeno, o uso de equipamentos de segurança não é comum.
Alexandro Ribeiro Lima, de 31 anos, é entregador de produtos de uma farmácia na Rua São Clemente, em Botafogo, a mesma onde foi atropelada por um ônibus, terça-feira, a ciclista Júlia Resende de Moura, 19.
Ele nunca sofreu um acidente, mas afirma ser desrespeitado por motoristas cotidianamente e sentir medo, principalmente após a morte de Júlia. “Acontece muito, todos os dias. Tiram fino da gente, já aconteceu de agarrar o guidão da bicicleta em retrovisor de carro”, conta.
A área onde ele trabalha é vista como um ponto crítico para ciclistas, devido aos inúmeros buracos e à faixa compartilhada com ônibus. “Seria bom se tivesse ciclovia para separar ciclistas de outros veículos. A gente não correria risco”, diz.
Entregador de um petshop na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, Plínio Ribeiro, 23, prefere andar na contramão, “para pelo menos ver o que vem na frente”, afirma. Francisco Vieira Cardoso, 27, entregador de um bar na Rua Francisco Sá, também em Copacabana, afirma ouvir reclamações de motoristas, mesmo estando certo.
Mas Alexandro, Plínio e Francisco têm mais do que isso em comum. Pedalam horas por dia sem nenhum equipamento de proteção: nem campainha, nem sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e nem espelho retrovisor do lado esquerdo, artigos obrigatórios para ciclistas, de acordo com o artigo 105 do Código de Trânsito Brasileiro.
Falta lei de segurança para entregador
Para o presidente da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Santos, as condições em que os entregadores trabalham são deploráveis. “Vejo entregador pedalando de chinelo. O pé pode prender no pedal, na engrenagem”, diz.
Não há lei que determine que os empregadores forneçam equipamentos de segurança para os funcionários que realizam entregas de bicicleta, segundo Cláudio. Também não são realizadas vistorias nas bicicletas. Segundo ele, é necessária regulamentação.
Para o diretor da ONG Transporte Ativo, José Lobo, o maior problema é a violência no trânsito e a ausência de educação. Ele critica o fato de o motorista do ônibus que atropelou Júlia terça-feira ter afirmado que não percebeu a presença da ciclista. “Não respeitam a distância mínima entre o veículo e o ciclista.”
A falta de educação no trânsito e a ausência de ciclovias em alguns trechos são os principais problemas enfrentados por quem usa bicicletas, diz a designer Paula Mello, 45.