Por gabriela.mattos

Rio - A guerra entre o Comando Vermelho (CV) e a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, está promovendo um fenômeno inédito no sistema penitenciário do Rio. Presos vinculados ao PCC que ocupavam os presídios controlados pelo CV estão migrando para as galerias dominadas pela facção Amigo dos Amigos (ADA). Segundo o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Rio (Sindaperj), Wilson Camilo, cerca de 200 presos pediram transferência por motivo de segurança nos últimos cinco dias.

“Dois líderes do PCC, que estavam no Bangu 3, receberam um aviso de que deveriam se transferir. Isso foi na sexta-feira. De lá pra cá, foi uma avalanche de preso pedindo ‘seguro’”, contou Camilo. Por causa da tradicional aliança com o CV, os bandidos do PCC também eram inimigos do ADA. Mas agora, mudaram de lado. A guerra entre o CV e o PCC é de alcance nacional, já que as duas maiores facções do país controlam quase todos os presídios brasileiros.

Por enquanto, o racha não provocou mortes no sistema penitenciário do Rio, mas em Roraima e Rondônia 18 presos foram mortos. Entretanto, a possibilidade de o confronto ultrapassar os muros dos presídios e ganhar as ruas do Rio não deve ser desprezada.

Em entrevista à ‘BBC’, a socióloga Camila Nunes Dias, autora do livro ‘PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da violência’, afirma que o racha entre as facções “cria a possibilidade de que o PCC atue ao lado da ADA contra o CV na guerra por territórios do Rio”.

Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-RJ, Breno Melaragno, a situação é preocupante. “O Estado tem dificuldade de isolar os líderes de facção. Se for o caso, deve transferir esses presos para penitenciárias federais, sob o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).”

O Ministério da Justiça deve anunciar hoje um plano nacional contra o crime organizado. Já a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Carmen Lúcia, disse que pretende inspecionar os presídios, na condição de presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

‘Consórcio’ rachado após 24 anos

Desde que surgiu nos presídios paulistas, em 1992, o Primeiro Comando da Capital (PCC) mantém aliança com o Comando Vermelho (CV). Segundo a socióloga Camila Nunes Dias, essa relação era comercial. “Faziam uma espécie de consórcio para a aquisição de mercadorias — como armas, maconha e pasta base (matéria-prima da cocaína) — e para negociar melhores preços com fornecedores nas fronteiras”. Mas, ao contrário do CV, que desperdiça muitos recursos para enfrentar as facções rivais no Rio, o PCC não enfrenta concorrência em São Paulo. 

Esse é um dos motivos para o grupo criminoso paulista ter se tornado mais poderoso do que o carioca, em 24 anos. As quadrilhas expandiram para outros estados. Apesar de terem o mesmo lema — ‘Paz, Justiça e Liberdade’ — agora estão em caminhos opostos e devem deixar um rastro de sangue.

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